sábado, 19 de dezembro de 2009

Palavras, palavras

Adoro ler. De verdade. Gosto dos filmes, das músicas, mas um bom livro é infinitamente melhor que qualquer um deles. Primeiro, porque não é preciso muito mais que boa vontade para ler. Nada de aparatos tecnológicos. É possível ler embaixo da árvore, na fila do banco, na beira da praia, no ônibus, na hora do café. Segundo, porque os livros permitem que cada um pense nas histórias à sua maneira. Algo absolutamente fantástico.

Mas, por incrível que pareça, não sou uma compradora de livros. Talvez porque nunca tive uma estante no meu quarto, um lugar bem bonito para guardar tantas obras. Também nunca ganhei muitos livros, as pessoas preferem me dar roupas, brincos e colares de presente. Coisa engraçada. De qualquer forma, isso nunca foi um problema. Nos últimos anos, menos ainda. Tenho um grande amigo, o Igão, que desde o início da faculdade assumiu uma nobre responsabilidade: promover boas leituras para mim.

E tem sido assim desde então. Ele me empresta quase todos os títulos que compra, já sabe que eu não vou abrir o livro de forma brusca e estraga-lo. Muito obrigada, Igão, você é realmente ótimo. Mas esta semana, tive que pegar um livro emprestado com outra pessoa. Essa pessoa se chama Vinícius, tem 10 anos e está na quarta série. Ele me emprestou um livro que quase todo mundo que conheço já leu: O pequeno príncipe.

Sim, isso mesmo. Eu tenho 24 anos e nunca li O pequeno príncipe. Se li, faz tanto tempo que nem me lembro. Saí contando para os meus amigos qual será a minha próxima leitura. E, para minha surpresa, muitos contaram que leram O pequeno príncipe outra vez recentemente. “Toda vez que leio, percebo algo diferente”, ouvi de alguém.

Estou ansiosa. O livro está aqui do lado, já li as primeiras páginas – aquela em que ele fala do desenho da jiboia, sensacional. Para falar a verdade, já li essa parte umas três vezes. Aí paro e começo de novo. Como quando a gente escreve e, para ver como ficou a estrutura da última frase, lê tudo de novo, desde o início. Acho que é excesso de apego, não sei. Gosto muito de palavras.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Dor feminina

Mulheres sofrem. Sofrem com grosserias, com injustiças. Com pais repressivos ou liberais demais. Com livros de histórias tristes, ou até nas comédias com final feliz. Sofrem de cólica, enjoo e parto. E depois sofrem com a tosse, a febre, a falta de notícia dos filhos. Mulheres sofrem de ansiedade, gastura horrível que corrói o estômago diante de uma situação nova. Também sofrem de tédio, raiva, preguiça, falta de coragem para fazer o que é certo. Mulheres sofrem pra dizer a verdade e sofrem depois de ouvi-la.

- Tenho que te contar uma coisa meio chata. É é sobre você.
- Que foi?
- Bem, não é sobre você. É sobre o seu romance...
- Ai, fala logo. O que foi?



- E aí? Tudo bem?
- Tudo. Tudo ótimo! To com vontade de esfregar a cara dele no asfalto, mas tá tudo ótimo.
- Ai, que bom. Tava com medo da sua reação... Vem, cá. Você não vai comer nada?
- Acho que sim, eu preciso, na verdade.. Moço, por favor, traz um caldo.
- Um Carlton?
- Não, um caldo. De feijão...Aliás, moço. Cancela o caldo. Traz um Carlton mesmo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Musiquinha

Para uma vida vicentina, nada melhor que uma noite severina.

Noite severina

Pedro Luís e Lula Queiroga

Corre calma, severina noite
De leve no lençol que te tateia a pele fina
Pedras sonhando pó na mina
Pedras sonhando com britadeiras
Cada ser tem sonhos à sua maneira
Cada ser tem sonhos à sua maneira

Corre alta, severina noite
No ronco da cidade, uma janela assim acesa
Eu respiro o teu desejo
Chama no pavio da lamparina
Sombra no lençol que te tateia a pele fina
Sombra no lençol que te tateia a pele fina

Ali, tão sempre perto e não me vendo
Ali sinto tua alma a flutuar do corpo
Teus olhos se movendo, sem se abrir
Ali, tão certo e justo e só te sendo
Absinto-me de ti, mas sempre vivo
Meus olhos te movendo sem te abrir

Corre solta, suassuna noite
Tocaia de animal que acompanha a sua presa
Escravo da sua beleza
Daqui a pouco o dia vai querer raiar
Daqui a pouco o dia vai querer raiar...

Prisma

Ela se tornou mulher numa noite mais ou menos como essa. Chegou em casa tirando o tênis e a roupa. Não era para ninguém, mas para ela mesma, cansada de um dia que parecia ter tido 40 horas. Na sala, ela o encontrou. Com a cara amarrada, como o de costume. Não que ele fosse um sujeito mal-humorado, apenas tinha dificuldade em lidar com o diferente. E ela era diferente.

Sem rodeios, ele impôs suas condições. Se ela era assim, as coisas agora seriam assado. Afinal de contas, estou cansado de ceder. Sem se alterar, ela respondeu que não aceitava. De jeito nenhum, não vou pagar uma conta que não é minha. Manteve o rosto erguido, sem deixar escorrer uma lágrima. Usou argumentos inteligentes, sem espernear. Uma adulta, enfim.

Mas ele não estava preparado para tanta decisão. Claro que não. Essas coisas levam tempo. Além disso, a maioria dos pais prefere não ver que os filhos cresceram.

Ela, que pena, não sou eu. Mas uma das pessoas mais admiráveis que eu já conheci.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pequeno grande encontro

Tem encontros ao acaso que a gente teme, mas não muito. São mais difíceis do que a gente gostaria, mas não tanto quanto a gente imaginava. Mas o sem querer dura pouco, o tempo de uma caminhada até a saída, talvez.

- Então, professor, ficou bacana essa reforma aqui, né?
- É, ali é o laboratório e...
- Carol?
- Oi. Oi!
- O que você está fazendo aqui?
- Ah, vim conhecer o trabalho do professor.
- Então você conhece essa figura, Carolina?
- Ô.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Crônica dos beijos anunciados

Perdoe-me, Gabo, pelo plágio mal feito. Mas não consegui achar título mais apropriado para aquela hora em que você sabe que vai acontecer, torce para acontecer e, mesmo assim, bate aquele medinho de não ser nada disso. Coisa comum nas primeiras vezes, e nem precisa ser a primeirona mesmo. Pode ser a quarta, a quinta ou a décima. Não saber é sempre interessante.

- Aí os dois assaltantes entraram no bar, anunciaram o assalto, levaram os celulares. Eu e meu amigo...

Poxa, ele bem que podia me beijar.

- Acabou que eu levei uma coronhada, fiquei com essa cicatriz na boca, ta vendo?

Será que eu vou ter que beija-lo?

- Ahn? Cicatriz? Onde?
- Aqui, no lábio superior.
- Ah, ta bem pequena.

Como será que é beijar essa cicatriz?

- Ei, você está me ouvindo?
- To, claro.
- É que você pareceu distante.
- Imagina... só estava te olhando.
- Olhando?
- É, olhando.
- Vem cá...

...

- Pois é, eu não gosto de reggae.
- Sério? Que pena, eu adoro.
- Da próxima vez, eu trago um CD só pra não correr o risco.
- Ah, não fala assim.
- Tô brincando.
- Mas eu não ouço só reggae, sou bem eclético até. Você já ouviu aquele CD do Ney Matogrosso com o...

Olha, o papo ta ótimo. Mas eu vim aqui pra te beijar. A gente pode até conversar depois, ser amigos e quem sabe até evoluir para um rolinho. Mas agora não.

- ...aí eles fizeram umas versões exclusivas, bem legais. Olha essa aqui.
- Hum, legal mesmo. Depois eu quero gravar.
- Tem também essa outra, olha só esse arranjo...
- Lindo... Sabe o que que é? To curiosa.
- Curiosa como?
- Ah, curiosa.
- Vem cá...

Beijar na boca é bom. Mas, muitas vezes, a graça é o caminho e não a chegada. Meu próximo namorado vai ter que ser compreensivo com algumas coisas. Vez ou outra, a gente vai brincar de conquista. Só pra ver quem perde primeiro.

Filho de peixe...

Peixinho é!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mansão Foster

Já falei aqui dos meus cinco amigos imaginários, certo? Eram cinco mesmo, com nomes esquisitos e personalidades bem distintas. Tinha uma dupla responsável, outra dupla que me parecia ser um jovem casal e um solitário, completamente da pá virada. Fiquei um tempo pós-infância achando que eu era louca, mas minha mãe me convenceu de que isso é perfeitamente normal (e não tentem fazer o contrário!).

Mas sempre fiquei intrigada para saber por que é que eu não imaginava pessoas normais. Crianças da minha idade ou mesmo adultos companheiros. Não. Meus amigos imaginários tinham formas e cores bem estranhas. A dupla mais séria era em tons de verde e azul, o casal tinha algo de vermelho - não me lembro tão bem, isso já faz algum tempo - e o serelepe era pequeno, boca sorridente.

Ontem descobri que eu não sou solitária nessa loucura infantil. Assiti com uma amiga a um desenho chamado Mansão Foster para Amigos Imaginários, no Cartoon Network. Adorei! Os desenhos são completamente psicodélicos, tem um que é só um rabisco falante, outro que parece um bexiga cor de rosa, sem falar nas inúmeras possibilidades para narizes, olhos e bocas dessas criaturas estranhas.

Achei o desenho o máximo, a ideia sensacional. Pode ser que os cartunistas tenham usado muitas drogas para chegar ao resultado final. Mas ficou ótimo, tenho certeza que milhares de jovens se identificaram com isso. E se tudo der errado, eu viro roteirista de desenho animado ou crio uma Mansão Carolina para Amigos Imaginários.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Conexões

Sei que não é novidade, mas para mim soou totalmente surreal (olha ele aí de novo) a teoria dos seis graus de separação. Para quem nunca ouviu falar, trata-se de uma teoria que afirma que todas as pessoas do mundo estão conectadas entre si por até seis laços de amizade. Ou seja, você conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece o Barack Obama. Ou o Brad Pitt, o que por si só já renderia um convite para um churrasco na mansão Jolie/Pitt.

Mas acho que isso é pura especulação. Não consigo imaginar nenhuma ligação com um camponês que vive no interior da Índia. Penso que essa história só dá certo quando se trata de gente rica e/ou bem nascida como eu e você. Gente que tem acesso a um computador, internet e aos badalados sites de relacionamento.

Que seja. Em Brasília – lugar que concentra muitos ricos e/ou bem nascidos – essa conectividade deve se realizar em até dois laços. O pessoal costuma dizer que aqui só existem três pessoas: eu, você e alguém que a gente conhece. O que na prática significa: não faça nenhuma merda muito grande. Todos vão saber.

Surreal

Se tem um adjetivo constante no meu vocabulário, é surreal. Usado para o bem e para o mal, descreve situações surpreendentes, impressionantes, memoráveis, fora de contexto. De cair o queixo.

- Surreal, né.
- Muito. Um momento mágico, eu diria.
- É. Só faltou uma lua bem bonita.
- Nada... Ela ficou com vergonha de aparecer. Tá muito mais bonito aqui embaixo.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

As cartas que eu não mando

Oi, tudo bem? Sabe o que eu aprendi esse dias? Supernovas são explosões de estrelas gigantes. Prroduzem o brilho de 100 bilhões de sóis de uma só vez, um verdadeiro espetáculo celestial. A música do Oasis faz muito mais sentido pra mim agora: "in a champagne supernova in the sky". Captou?

Aliás, tenho aprendido muita coisa sobre o universo nesses últimos tempos. Você ficaria orgulhoso. Um pouco por dever profissional, mas também porque eu me interesso de verdade por essas coisas. Quem sabe eu não largo o jornalismo e faço astronomia. Ia ser um escândalo, eu ia me tornar a primeira astronauta brasileira. Oh, esqueça. Quantas bobagens.

Ainda lembro de você e sua paciência de Jó me explicando a Teoria da Relatividade em uma mesa de bar. A mesa de plástico se transformava no nosso universo, cada lado uma dimensão, ou algo assim. Você e seu ar professoral, eu toda interessada até a hora em que parava de ouvir qualquer som, só ficava lendo seus lábios e olhos. "Você não está mais prestando atenção", você me acusava. "Claro que não". E a gente se beijava. Simples assim.

Mas, como eu ia dizendo, o universo é fascinante. Também descobri esses dias que gases essenciais para a vida na Terra vieram das estrelas. Ou seja, nós somos estrelas! Lindo, não? Quem diria, quase me apaixono pela física. Você ficaria orgulhoso. Talvez não mais que eu. Como você pode perceber, estou gostando bastante de mim.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Caiu na rede...

Começou com o ICQ, há mais de 10 anos atrás. Antes, havia o tal do mIRC, mas eu não lembro de muita coisa. Aliás, lembro. Achava que o que vim a chamar de layout era péssimo, nada amigável, como dizem meus colegas designers. Aí vieram as salas de bate-papo, cada vez mais especializadas. Por cidade, faixa etária, gosto musical e sexual. Uma variedade enorme!

Depois chegaram os sites de relacionamento. Resisti quase seis meses antes de entrar no Orkut. Mas acabei cedendo à possibilidade de encontrar velhos amigos. Ou de simplesmente mandar recadinhos para a colega que senta ao meu lado. Atualmente, não passa um dia sem que eu receba convites para ingressar em alguma nova rede: My Space, HI5, Facebook. Essa última, então, está prestes a se tornar a nova paixão nacional. O Orkut que se cuide.

Isso sem falar no Twitter. Esse, sim, me impressiona. Li esses dias que os judeus estão mandando pedidos fervorosos pela mais nova ferramenta da internet. Muito prático. Ao invés de ir até o Muro das Lamentações, em Jerusalém, é só resumir o desejo em 140 caracteres. Até aí, tudo bem. Pílulas de informação são interessantes. O que me incomoda é a (des)informação, no melhor estilo “pessoal, peidei. Vou ao banheiro e já volto”. Muita intimidade cibernética para o meu gosto.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Mundo cão

“Sou casado”. As letrinhas brilharam na tela do celular e eu fiquei com um enjôo muito forte. Dei uma risada nervosa.

- Dá uma olhada nisso aqui.
- Não acredito...
- Nem eu.

Pois acredite. É isso mesmo. Infelizmente, casamento é uma instituição que as pessoas insistem em falir, para não dizer outra coisa.

- Será que não é mentira?
- Acho que não.
- O que você vai responder?
- Filho da puta.
- Faz isso não.
- Claro que não.

Claro que não. Adorei você ter me avisado isso só agora. Realmente, foi de uma consideração enorme! Só não me sinto mais idiota que a sua mulher.

- Ah, mas a vida é assim mesmo, né.
- É. Acho que eu sou muito inocente às vezes.
- Talvez. Mas você tem que pensar que está tranquila com a sua consciência.
- Claro.

É como diria o Ed: o mundo é maravilhoso. O ser humano é que não é legal.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Passageiro

Na etimologia grega, efêmero é aquilo que dura um dia. Como certas coisas que acontecem com a gente.

- O problema de ser nômade é esse. A gente encontra alguém legal e logo vai embora.
- Então tá. Se um dia você quiser conhecer Brasília, me liga.
- Pode deixar.

É claro que você não vai ligar. E você sabe que eu sei que você não vai ligar. É tão perceptível que quase dá para tocar.

Efêmero. Gosto dessa palavra.

sábado, 11 de julho de 2009

Carolina vai à Amazônia

A trabalho. Muito trabalho. Mas nada que impeça um pouco de diversão.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Aniversário

Deve ter sido muito emocionante mesmo aquele momento em que o médico me arrancou do útero da minha mãe. Imagino que, aos prantos, olhei para a cara de “mais uma menina” da equipe cirúrgica e fiquei me perguntando por que diabos me tiraram daquele lugar quentinho. Três semanas antes da hora, uma verdadeira crueldade.

Não fosse pela violência com que o ar penetrou nos meus pulmões, eu não teria aberto aquele berreiro e, certamente, minha mãe e o pessoal do hospital ficariam preocupados. Já ouvi falar que, quando o bebê não chora, começa a apanhar do médico. Deus me livre. No meu caso, tudo deu certo. Pouco tempo depois, estava no colo da minha mãe, que devia estar mais emocionada que eu, com certeza.

Depois disso, todo 8 de julho virou dia de festa para mim. Bom, mais ou menos. Não me parece muito festivo estar atolada de coisas para fazer. Se eu soubesse como era essa coisa toda, tinha ficado na barriga da minha mãe. Ou não.

Na verdade, quem merece os parabéns mesmo são os meus pais. Foi a vida deles que mudou radicalmente depois que eu nasci. Fico um pouco frustrada de não ter conhecido minha mãe e meu pai antes de a gente se tornar uma família. Mais emocionante que nascer é tomar a decisão – voluntariamente ou não – de botar alguém no mundo.

domingo, 28 de junho de 2009

Franquias

Conheci o Subway nos Estados Unidos, há dois anos atrás. Fiquei encantada ao me deparar com aquele sanduíche frio, no pão integral, com salada e tudo. Depois de 10 dias comendo hamburguer no café da manhã e no jantar - sim, porque o almoço a gente pulava - uma refeição do Subway parecia um banquete.

Aí os brasileiros importaram o Subway. Assim como várias outras coisas estadunidenses. No começo, ficava com aquela ideia venezuelana de tentar evitar os estrangeirismos, seja na língua ou na comida. Ou se não evitava, me ressentia. Tudo bem, escrever "sítio" em vez de "site" seria muito português. Mas por que diabos tenho vontade de comer um Cheddar Mc Melt quando há um sem número de saborosas tapiocas?

Entrevistei uma professora de português esses dias e ela acabou com os meu temores nacionalistas. O Brasil é o país do "mexido", disse ela. Nossa língua, nossa culinária, é tudo que nem coração de mãe. Sempre cabe mais um. A gente consegue adaptar tudo.

Por exemplo, o Subway. Claro que a máquina de refrigerantes fica virada para o público, o que, teoricamente, abre a possibilidade de recarga. Mas há um aviso bem brasileiro, voltado aos mais brasileiros clientes: por favor, sirva-se apenas uma vez. Sem falar nas possibilidades de misturas. O pessoal aqui leva a sério o cartaz que diz "mais de 6 milhões de combinações". E consegue enlouquecer os atendentes.

- Sem cebola, moça. Com picles. Capricha no picles, por favor.
- Moça, será que você pode colocar a cebola que ela não quer no meu?

- Pode misturar os molhos? Eu quero parmesão e mostarda com mel.

- Moço, tem como fazer um de queijo, só de queijo, mas sem cobrar o dobro de queijo?

Uma loucura. Agora, o que eu nunca vi foi alguém pedir o dobro de alface. Acho que isso a gente importou igualzinho dos Estados Unidos.

À capital gaúcha

Uma amiga Jbete (para quem não sabe, grupo de ex-companheiras do falido Jornal do Brasil) jura que Porto Alegre é o paraíso das mulheres solteiras. Acabou de mandar um e-mail falando que todos os homens bonitos do Brasil decidiram se esconder na capital gaúcha. Morri de rir. Estive lá há uma semana e confesso que fiquei mais impressionada com a beleza das mulheres do que com a dos homens.

Lá, não tem essa de colocar uma roupinha despretensiosa e sair como quem não quer nada para jantar ou tomar uma cerveja com as amigas. Qualquer evento exige uma mega produção, que começa com escolha de roupas e acessórios chiquérrimos e termina com uma maquiagem bem feita, no melhor estilo "sou linda e sei disso".

Isso não significa que as gaúchas gastem os tubos para entupir o armário. Caminhei pelo centro da cidade e pude atestar que as lojas populares vendem roupas muito elegantes. Por que isso não acontece aqui também?

Porto Alegre tem opções de lazer para todos os gostos. É o que dizem, infelizmente, não dá para checar isso em apenas um final de semana. Mas se sai melhor quando o assunto é boa mesa ou rock'n roll.

Se Porto Alegre fosse uma bebida, seria um vinho. Se fosse um prato, seria uma massa com molho branco ou rosé, talvez com um toque de pimenta - perdoem-me os fanáticos por churrasco. Se fosse uma balada, seria um pub. Se fosse uma pessoa, seria um daqueles porto alegrenses que adora a própria cidade e lembra das datas históricas que aprendeu na escola, há muitos anos atrás.

Termino esse texto plagiando a minha amiga Jbete. Tentem POA uma vez na vida. Sério. Vai ser a alegria de vocês.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mais uma do meu Brasil

Ela saiu do trabalho mais ou menos na hora de sempre, se culpando por não ter ido à academia, pensando em quantas calorias ganhou comendo biscoito e tomando café. Cruzou o estacionamento com o passo apressado, olhando para os lados, com a chave do carro na mão.

Colocou a chave na maçaneta e quase caiu para trás ao ver o interior do veículo todo virado. Ai meu Deus, pensou. Olhou em volta como se estivesse em um reallity show. É pegadinha, vou voltar lá pra cima, descer de novo e tudo vai ficar bem. Pensou em ligar para o pai, para a irmã, para o ex-namorado, mas acabou ligando para uma amiga que já havia passado por algo parecido.

- Oi, gata!
- Mexeram no meu carro.
- O quê?
- Mexeram, arrombaram.
- Sai de perto do carro.
- Tá.

Aí a coisa virou comoção. Todos os colegas desceram, perguntaram se ela estava bem, se tinham furado a porta, quebrado o vidro ou levado o som do carro. Não. Aparentemente, estava tudo aí. Exceto pela bagunça.

Nervosa, sem conseguir se mexer direito, ela viu os colegas constatarem que o carro foi arrombado pelo porta-malas, com uma técnica de roubo super sofisticada na qual o bandido não precisa furar a lataria. Impressionante.

Descobriu que levaram uma mochila, um par de tênis, uma calça de fazer ginástica e uma calcinha que ela nem gostava tanto assim. Ouviu o segurança dizer que ela teve sorte, porque afinal de contas, o estepe estava aí e o som do carro também. Sorte. Uma tremenda sorte ser só um pouquinho sacaneada por um malandro filho da puta. Ou dois.

Depois ficou com medo de entrar no carro sozinha, como se o bandido fosse brotar do meio do volante a qualquer momento. Saiu pelo mesmo caminho de sempre, se sentindo um pouco usada, um pouco vazia, um pouco com raiva e um pouco - por que não? - com sorte. Pelo menos, não foi ameaçada ou sei lá o quê.

Ela sou e eu e essa história aconteceu ontem à noite.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Primeira noite

Há vários tipos de primeira noite. Primeira noite que você beija na boca, que você sai sem hora para voltar, que você dorme com alguém ou morre de chorar pelo toco que levou. Há também a primeira noite em um lugar totalmente estranho ou a primeira noite em que você dorme em casa depois de muitos dias longe da sua cama. Todas têm algo de novo, especial.

Semana passada, eu tive a minha primeira saída noturna desacompanhada. Desacompanhada mesmo, sem ninguém para ligar na hora de ir dormir ou mandar uma mensagem dizendo que a música está ótima, mas que a saudade está apertando. Depois de meses, você chega em frente aquele lugar super badalado, que você adorava, e se depara com um grupo de 30 senhoras embarcando em uma excursão para Caldas Novas.

- Amiga, o que aquele pessoal está fazendo aqui?
- Ai, não sei. Mas vamos entrar logo. Se for ruim, a gente não volta mais.

Nada de filas, a demora para entrar se deve a um atrapalhado atendente que demorou 15 minutos para conferir o nome de 20 mulheres em uma lista de cortesia. Nessa hora, estamos eu, minha amiga e as 20 mulheres no local. Uau. Ainda bem que eu não vim aqui para paquerar.

Você vive aquela fase em que ainda não sabe direito o que fazer com as mãos, os braços, as pernas, não sabe se dança ou se escora no balcão. Se não sabe nada disso, imagina se vai se atrever a lançar algum olhar malicioso. O máximo é olhar nos olhos do balconista para que ele entenda a sua vontade de conseguir um copo de vidro, e não de plástico.

Depois de um tempo, você já nem está mais tão assustado assim. A música é mais ou menos a mesma e o banheiro continua tendo filas, nas quais mulheres bêbadas pedem misericórdia para que as da frente se apressem ao fazer xixi. Nada de estranho. Você até resolve dançar com alguém.

- Você é de Brasília mesmo?

Não, não sou. Sou paulista e venho todos os meses especialmente para esse lugar. Por que será que todo mundo me pergunta isso?

- E o que você faz?
- Sou jornalista. E você?
- Faço Direito.
- Hum.

- Você vem toda semana aqui?
- Não exatamente...
- E o que você faz?
- Sou jornalista, e você?
- Faço Direito.

Quando o terceiro me respondeu a mesma coisa, achei que era pegadinha. Mas o pior mesmo foi o quarto, que podia até fazer Direito, mas não conseguia sequer conduzir a dança de tão bêbado.

- E aí, amiga? O que você achou?
- Ah, divertido. No mínimo.
- É. Tô com fome, e você?
- Um pouquinho.
- Que tal um omelete?
- Adorei!

Nada mau para uma primeira noite.

domingo, 31 de maio de 2009

Poeminha

Memória

Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Cabeleira

Decidi que era hora de cortar o cabelo no dia em que o Apoena – meu colega mais desligado para esses assuntos de aparência – me perguntou:

- Carol, você fez alguma coisa diferente no cabelo?
- Não. Por que?
- Ah, você costumava andar com ele meio assim, nos olhos, né?
- O nome é franja, Apo. Não fiz nada, não. Ele só cresceu.

Mas ir ao salão não é um processo tão simples assim. Ao contrário de muitas mulheres, não tenho paciência para visitar o cabeleireiro e somente aparar as pontas. Sem falar no risco. Depois que uma moça me transformou na Xuxa ao fazer mechas, decidi ser a cliente mais chata do universo.

- Corta. Pode cortar uns quatro dedos.
- Tem certeza?
- Claro que eu tenho. Só não vai me deixar com aquele tufo de cabelo na parte de baixo.
- Claro.
...
- Sandro. Não vai me deixar careca também, né?
- Ih, parece que não confia em mim.
- Confio, Sandro. Só sou um pouco insegura. Você sabe, desde que eu apareci no seu salão com aquele cabelo amarelo ovo...
- Eu sei, eu sei. Alguma vez você já saiu daqui descontente com o resultado?
- Não. – ainda não, pensei.
...
- Que tal?
- Hum, assim, de escovinha ficou jóia.
- Moderno, né?

Sempre tenha medo de cortes “modernos”. Eles têm 50% de chance de parecerem modernos apenas na hora que você saiu do salão.

Uma semana depois:

- Sandro, você tem um tempinho pra mim hoje?
- Quê que foi?
- Ah, não tô gostando desse cabelo.
- Algum problema com a cor?
- Não, é o corte mesmo.
- Tá, aparece aqui que a gente resolve.

Ainda bem que o Sandro me entende. E arrumou o corte sem cobrar um centavo!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Mocinha

Eu - Mãe, te contei? Vou declarar imposto de renda esse ano.

Mãe - Jura? Que orgulho!

Eu - Não, mãe. Não é para ficar feliz. É uma notícia triste.

Mãe - Ah, hum. Tá bom. Mas eu me senti mais ou menos como no dia em que você ficou menstruada pela primeira vez.

Vai dizer, minha mãe com certeza alegra a minha vida vicentina.

De onde surgem as estrelas

É engraçado o processo de “batismo” das coisas. Você tem um produto, um livro, uma marca, uma empresa, uma banda e precisa de um nome bem bacana para se vender à sociedade. A coisa começa com o que os entendidos no assunto chamam de “brain storm”, geralmente uma conversa muito doida, onde brotam asneiras e, com sorte, uma idéia genial.

Bem, nem sempre tão genial. A revista mais lida do país, por exemplo, chama-se Veja. O que eu acho uma bobagem. O mesmo nome de um famoso limpador de pisos. Todo mundo já usou o Veja para tirar aquela marca de sapato sujo do chão ou limpar o xixi do cachorro.

Certo é que a maioria dos nomes famosos são curtos, sonoros e, quase sempre, não têm muito a ver com o produto em si. Aí surgem os nomes de família, os estrangeirismos e coisas do tipo. Todo mundo já fez compras do Carrefour e está doido para que o Iguatemi seja inaugurado, não é mesmo?

Coisa parecida acontece com os carros. A italiana Fiat não perde a oportunidade de mandar uma palavra bem ao estilo da mama, como Uno, Palio, Siena... Na Volks, eu adoro o nome Fox, raposa em inglês. Mas confesso que fiquei um tanto frustrada ao saber que o nome do carro era para ser Tupi, uma vez que foi criação brasileira. Tudo bem, Fox é até mais robusto, mas nada como valorizar a cultura nacional.

Agora, o mais interessante ocorre nas artes. Não sei se é o espírito criativo e revolucionário, mas na música, por exemplo, é possível quebrar todas as regras e condições. Sua banda pode ter o nome mais bizarro do mundo, não importa. Vai cair no gosto do público por razões que a própria razão desconhece e que, muitas vezes, nada têm a ver com a qualidade musical.

Alguém aí iria ao show dos Paralamas do Sucesso? Assim, sem conhecer nadinha do grupo? Eu não. Muito menos ao show do Biquíni Cavadão. Fala sério! Isso sem falar nos ingleses, americanos, escoceses que adoram ser “The” alguma coisa. Fico no mínimo curiosa para saber por que uma melhores bandas de rock de todos os tempos se chama The Doors. Os Portas! Não dá para acreditar.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Essa tal produtividade

Um dia você fica adulto e começa a trabalhar, assim, como adulto mesmo. Oito horas por dia. Até aí, tudo bem. Você consome oito horas de um dia que deve ter umas 16 horas úteis. Nas que você não está trabalhando, está indo à academia, ao dentista, ao médico, fazendo um cursinho de inglês, uma pós-graduação, lendo, almoçando, indo ao cinema, saindo com os amigos e dando atenção ao namorado, ao pai, à irmã, à mãe, à vó, a moça que trabalha na sua casa e à que já trabalhou, mas que sempre liga para pedir aquela ajudinha.

Aí você fica um pouquinho mais velho, começa a enforcar aquelas duas horinhas do almoço para ficar no escritório “adiantando” algumas coisas. Sim, porque você não vai perder duas horas preciosas de um dia que só tem 24, mas que deveria ter, no mínimo, 30. E quanto mais você tenta “adiantar” as coisas, mais elas ficam atrasadas. Aí você pensa que é assim com todo mundo, mas que tem que dar um jeito, porque essa história de não ter tempo para nada é coisa de quem não sabe se organizar.

Aí você começa a sair do trabalho muito depois da hora que deveria sair e muito, muito mesmo, depois da hora que entrou. Parabéns, sua mesa de trabalho virou sua janela de comunicação com o mundo. Seus amigos reclamam do sumiço, o namorado pergunta quando você terá um tempo na agenda, o pai pergunta se você ainda mora em casa e o cachorro nem se levanta para te receber na porta. Olha com aquela cara de “hum, você tem cara de pensionista.” Até aí, tudo bem. O companheiro, a família, o professor da academia, o cachorro, todos gostam de você. Compreendem seu momento.

Mas aí chega o dia em que você chega em casa depois que a padaria fechou. O estabelecimento comercial mais dinâmico do bairro está fechado. Significa que você, agora sim, alcançou o limite máximo da produtividade. Máximo? Bem, o próximo passo é sair de casa antes de a padaria abrir...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Homens e suas gentilezas

Se tem uma hora em que todo macho é gentil, essa hora é durante a chuva. Não importa se é só uma garoa, até o mais grotesco dos brutamontes estufa o peito e, cheio de coragem, encara a enchente para proteger os pés e cabelo da namorada. Na verdade, não precisa ser namorada. A gentileza vale para mães, filhas, esposas, irmãs e amigas. Quando a moça está de chapinha, então, a boa vontade é quase obrigatória!

Esses dias, depois do dilúvio:

Ele – Zulmira, fica aí que eu vou pegar o carro.

Ela – Ô, amor. Eu vou com você.

Ele – Larga de ser besta! Mandei ficar na calçada!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Salário

Ontem, no quarto da minha irmã:

Eu - Isa, faz aí na calculadora quanto é 14 por cento disso aqui.

Isa - Tá.

...

Isa - Nossa, mana. Você ganha bem, né?

Eu - Não. Muito menos do que eu deveria ganhar pelo tanto que eu trabalho.

Isa - Hum. Pelo menos seu salário tem quatro dígitos.

E me olhou com aquela cara de estagiária desolada.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Linguagem

Por que será que "pois sim" é não e "pois não" é sim?

Retirado de um cartaz em uma escola de ensino fundamental.

domingo, 15 de março de 2009

Impotência

No Rio Grande do Sul, Maranatha é uma grande festa religiosa para Nossa Senhora Imaculada Conceição. Quando criança, cheguei a ser anjinho da festa por uns três anos seguidos. Um pouco por insistência da minha avó e outro pouco porque achava o máximo usar aquelas asinhas.

Em Brasília, Maranata sem “h” é o nome de uma companhia de táxi que dá 30% de desconto na corrida. Mas às vezes dá vontade de nem pedir o desconto.

Sexta-feira, voltando da festa:

Bruno – E como está o movimento essa noite?

Taxista – Ah, tranqüilo. Mas tenho que correr atrás do prejuízo. Essa semana, fui assaltado.

Bruno – Sério? Mas levaram muita coisa?

Taxista – Uns duzentos reais. Mas o pior mesmo foi ficar com o cano da arma nas costas. Um tiro aí é para ficar o resto da vida sem andar.

Eu – Você deu queixa na polícia?

Taxista – Dei sim. Os policiais me perguntaram como é que eu tive a inocência de pegar dois marmanjos no meio da rua, na Ceilândia. Achei que eles eram de bem.

Eu – Levaram documento e tudo?

Taxista – Tudo. To andando só com o boletim de ocorrência. Mais problema, né? Só a segunda via da identidade custa trinta e cinco reais.

Eu – É verdade. Muito caro.

Taxista – Pra isso a gente dá um jeito. Só não quero passar por uma coisa dessas outra vez. Cinco minutos com um cano gelado nas costas parecem uma eternidade.

sábado, 7 de março de 2009

Português

Essa história sobre mim me lembrou um outro papo engraçado dessa semana.

Quinta-feira, no almoço:

Eu - Então, acho que não vou ir para a festa amanhã.

Ele - Não "vai ir"? Você, como jornalista, devia saber que não se pode juntar duas vezes o mesmo verbo em uma frase.

Eu - Ai, não enche. Vai ficar me policiando, é? Já escrevo certo o dia inteiro, preciso extravasar, poxa!

Ele - Tá bom.

Depois do almoço:

Ele - Você sabe qual o correto: "entre mim e você" ou "entre eu e você"?

Eu - Entre eu e você, não?

Ele - Não! Errada!

Eu - Vem cá, você passa a madrugada procurando coisas na internet para me irritar?

Ele - Nada disso. Tava no banheiro fazendo o número dois e li aquela coluna de português do Correio Braziliense, como é que chama a colunista mesmo?

Eu - Dad Squarisi.

Ele - Isso. Ela é super nerd, muito engraçado. Então, aí ela explicou que o "eu" tem alergia às preposições.

Eu - Hum, legal. Depois a colunista que é nerd...

Sobre mim

Ontem ouvi de um amigo que eu sou mais séria do que pareço ser. Que sou expansiva só nas aparências e, na verdade, me escondo em uma carapaça. Depois, o assunto "eu" virou um dos tópicos da mesa do bar e ouvi de uma amiga que sou até sisuda! Pode?

Outra descrição interessante veio de uma amiga que tem a mania de tentar ler as pessoas.

Ela - Carol, você é osso duro de roer, hein!

Eu - Como assim?

Ela - Ah, você não sai se dando fácil para os outros. Não distribui seu sorriso de graça. As pessoas tem que te ganhar.

Eu - Tá me dizendo que sou antipática?

Ela - Não. Diria que você é exigente. Seleciona seu afetos com muito cuidado e quando os escolhe se doa com uma fidelidade incrível.

E embarcou naquele papo de qual é o seu signo, ascendente, essas coisas.

Favorzão

Minha mãe sempre disse que ter irmãos é a melhor coisa da vida. Talvez porque ela nunca teve. Talvez porque ela tem razão mesmo.

Hoje de manhã:

Eu - Isa, faz um mega favor pra mim?

Isa - Ai, que que é?

Eu - Vai lá na banca comprar um jornal.

Isa - Por que? Aqui em casa tem jornal.

Eu - Eu sei. Mas tem que ser O Globo.

Isa - Ai, tá bom. O que você não me pede chorando que eu não faço chorando também?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Simples assim

"O cérebro é a coisa mais fantástica do universo e fica logo atrás do nariz."

Do personagem Stéphane, de Gael Garcia Bernal, no filme Ciência do sono, um dos mais doidos que eu já vi.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Ossos do ofício

São 19h10 e a jovem repórter espera pacientemente sua hora de conversar com a fonte. Sim, porque sem ESSA fonte, que vai dar A declaração, não há matéria. E o chefe já mandou dizer que a matéria é para hoje. Sem choro nem vela.

19h15. Você acaba de observar um lindo pôr do sol da janela. Já se despediu de cinco secretárias que não viam a hora de o expediente acabar. Expediente? Hora? Nem sei mais o que é isso.

19h20. Você já ligou avisando que vai demorar. Seu chefe soltou um palavrão, praguejou contra a ineficiência do funcionalismo público e avisou que você terá 15 minutos para escrever a manchete. Ótimo. Vai sair uma beleza de matéria.

19h30. A última pessoa a sair da repartição olha para você com cara de pena e faz aquela pergunta idiota: “nossa, você ainda está aí?”. Não, não. Isso é uma alucinação da sua mente, eu já estou em casa confortavelmente instalada no sofá, vendo televisão.

É quando a última funcionária entra da sala da sua fonte para avisar que já está indo, afinal de contas, tem família, marido, filhos, e compromissos que não podem ser adiados.

Moça – Já vou indo. Deixei tudo pronto para amanhã, ok?

Fonte – Tudo bem. Obrigado.

Moça – Ah, tem uma mocinha aí fora esperando para falar com o senhor.

Fonte – Ah, a jornalista...

Não sei o que foi pior: “mocinha” ou “jornalista”.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Lembranças do México IV: Como conquistar um lorde em uma noite

Eis que o príncipe encantado surgiu para minha amiga numa madrugada muito louca, em que chegamos trocando as pernas e conhecemos pessoas que estavam com as pernas trocadas há muito tempo. Tudo bem, o príncipe nem era tão encantado assim, uma vez que mal pronunciava o nome.

Mas minha amiga é brasileira e não desiste nunca.

No dia seguinte:

Camila – Carol, Carol! Como é que se diz “fazenda” em inglês?

Eu – Farm...

Dois minutos depois:

Camila – E “vaca”, como é que se diz?

Eu – Cow.

Decididamente, eles não estão falando de flores.

Camila – E “galinha”?

Eu – Amiga, do que é que vocês estão falando?

Camila – Tô contando pra ele da minha família do interior de Goiás.

Eu – Não acredito!

Camila – É, ele tá impressionado que eu tenho 16 tios.

Pois é. Isso aí. Do interior de Goiás para o mundo!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Nostalgia materna

Recebi esse e-mail da minha mãe agora pouco:

Porto Alegre.
Estou morta. Acredito que devo ter percorrido a distância de uma meia maratona, só iniciando a organização do apartamento. Como eu tenho (tinha) tralhas! Coisas, coisinhas, coisões; badulaques; roupas fora de moda, mas ainda boas; peças de estimação. Cruzes!!!
Para poder realizar um descarte legal e, mesmo porque não há espaço, eu terei que doar algumas coisas de ordem sentimental. Por exemplo: o que fazer com todas as fitas de vídeo de historinhas infantis de vocês? Se vocês não autorizarem a doação, eu darei um jeito. Acho que muitas nem funcionarão mais, pois após determinado tempo, elas mofam. Vocês é que mandam.
Quanto aos bichos de pelúcia: guardarei a Celeste da Ana Carolina (prometo que consertarei a coitada). Da Isa tem a Marina, o leão e o "cochoilo" (o filhote). O que achas? Guardar qual? Os demais serão doados.
Vocês acham que devo continuar guardando a Coleção do Monteiro Lobato? Me ajudem. Vocês abem como tenho dificuldade em me desfazer de certas coisas. Aqueles livros foram comprados no crediário quando eu estava grávida da Isa. Tá. E aí?
E o livrinho sobre orientação sexual? Ana Carolina, tu lembras quando tu sentavas no degrau da porta de casa, lá no Cinquentenário, a Isa grudadinha em ti, e tu explicavas o conteúdo do livro para ela?
Vocês entendem o que eu vejo quando pego essas coisas? Eu sei. Eu sei. Não adianta ter os objetos. As pessoas já foram. Tá bom. Doarei tudo, se vocês concordarem.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Lembranças do México III: Pimenta sim, senhor!

Esqueça tudo que você já ouviu sobre a comida mexicana. O chile é, na verdade, frijolles, as tortilhas não são de farinha e a pimenta é muito pior do que se pode imaginar. Em quase todos os restaurantes, há uma espécie de entrada, com totopos (aqueles que parecem com Doritos) e uns três tipos de salsa. É aí que mora o perigo.

Como tudo – ou quase tudo – pode vir acompanhado de tortilhas, praticamente não há talheres. Sim, mexicanos são hábeis comilões. Conseguem engolir duas empanadas (espécie de polenta frita caprichosamente recheada) sem fazer sujeira. Quando eu e Camila nos atrevíamos a seguir o costume, era aquela lambança. Molho e gordura espalhados nas mãos, rosto, roupas, cabelos e chão. Um charme.

E quando você acha que já viu de tudo, surge um pratinho com vinagrete e você até pensa: "nossa, que delícia. Vou comer um tomatinho." Na primeira dentada, dá vontade de chamar os bombeiros para aliviar a ardência na boca.

No primeiro jantar:

Anfitriã – Estas son tostadas, muy ricas. Solo tienes que poner la salsa. Muy ricas.

Camila – Y no pica?

Anfitriã – No, estas no picam.

WOW. AI. UI. Água, muita água. Não, refrigerante. Não, não. Cerveja. Ai, também não. Só alivia com limão.

Eu – Amiga, não quero nem imaginar como deve ser com pica...

Lembranças do México II: Neurótica versus hipocondríaca

Foi só sentar no avião para todas as minhas perebas emocionais aparecerem juntas. Em vinte minutos, eu estava com o rosto vermelho, descascando. Sem falar nas olheiras. Até peguei indicação de uma pomadinha que promete resolver problemas alérgicos em um ou dois dias. Tudo bem que eu já tinha uma, mais as pílulas e mais a solução nasal, mas eu não queria passar por nenhum aperto em um país estranho.

Na fila do check-in:

Camila – Amiga, preenche isso aqui.

Eu – O que é isso?

Camila – Identificador de bagagens.

Eu – Hum. E por que eu preciso preencher dois?

Camila – Porque um é para dentro e outro é para fora da mala.

Eu – Tá brincando, né?

Dentro do avião:

Eu – O que é isso?

Camila – Uma lista com tudo que tem na minha mala.

Eu – Credo, pra quê isso?

Camila – Para o caso de extravio. Sou precavida.

Eu – Nossa, até demais!

Paguei a língua. A mala extraviada foi a minha. Mas nem precisou uma lista com as coisas que eu tinha. No desespero, lembrei de cabeça todas as minhas roupas lindas, limpinhas que poderiam estar perdidas em uma terra desconhecida. Ainda bem que a caixinha de remédios estava comigo.

Lembranças do México I: Neste verão, você não pode perder!

Foi num desses impulsos malucos que te alcançam numa tarde de terça-feira que eu e a Camila decidimos ir ao México. Contrariando a crise financeira mundial, a alta do dólar e a falta do 13º salário, gastamos todo o nosso dinheirinho numa viagem com zero por cento de planejamento.

Camila, é claro, ficou doente com toda essa desorganização.

Eu – Que horas a gente vai levantar?

Camila – Ah, umas seis e meia.

Eu – O quê? Tá doida? O aeroporto fica a 10 minutos daqui!

Camila – Mas é vôo internacional, a gente tem que chegar duas horas antes.

Eu – Não é vôo internacional. A gente só vai a São Paulo.

Camila – Tá, mas eu prefiro me precaver.

Tudo bem. Ela pagou o café da manhã caríssimo do aeroporto enquanto a gente esperava duas horas para embarcar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ora, vamos...

Como as mulheres escolhem os seus homens

Marcelo Carneiro da Cunha
De São Paulo

Deu no New York Times, portanto tem que ser verdade. Falido ou não, o vetusto (adoro essa palavra e não encontrava jeito de usar) órgão da tradicional imprensa escrita não mente em serviço, dizem. Então aqui vai: as mulheres não fazem a menor ideia do que elas querem, desejam ou sentem. Ta lá, impresso e claro: a pesquisadora Meredith Chivers fuçou tanto que comprovou o que os homens em geral e esse aqui em particular vêm afirmando há décadas.

Homens são mais simples do que um protozoário quando o assunto é desejo. Sabem o que querem, do que gostam, e o que falam é exatamente o que sentem. Já as mulheres se comportam mais ou menos tão aleatoriamente quanto um elétron super-aquecido. O que sentem não tem a ver com o que veem, o que falam não tem muito a ver com o que sentem, e o que afirmam pode ser tão objetivo e sincero quanto uma entrevista com o Paulo Maluf. Enfim a verdade comprovada!

Ah. Nem é tão complicado assim...

Íntegra da matéria em: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3481224-EI8423,00-Como+as+mulheres+escolhem+os+seus+homens.html

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A difícil arte de decidir

Muito bem, garota. Agora que você cresceu, se formou, virou mulher é chegada a hora de decidir se casa ou se compra uma bicicleta.

Não se assuste. Todo mundo passa por isso. Pense bem: você está de parabéns! Teve uma adolescência sem traumas, passou bem bela faculdade e até fez uma pós-graduação. Mas agora acabou o “vou deixar a vida me levar”.

Sim, porque essa história de viver um dia de cada vez, sem pensar no amanhã, não está com nada. Não nessa realidade capitalista voraz. Seguir a carreira dos sonhos? Esqueça! Você precisa produzir. Pensar em como vai se manter, pagar as contas e um aluguel que pode chegar a R$ 500 por uma quitinete.

Isso sem falar naquela sua idéia de um dia ter um filho. Nossa, aí sim é ter cacife!

A família diz que você precisa ter um foco. O que se traduz em: passe em um concurso e não tenha problemas financeiros como os que eu tive, seu tio teve, a filha do meu cunhado teve. Sempre há exemplos.

É quando todos te olham e perguntam: qual é a sua?

A minha eu ainda não sei. Um pouco complicado escolher um caminho quando não se sabe direito aonde quer chegar.

Post antigo

Ah, o Natal. Família reunida, ceia farta e a certeza de que as preocupações só vão começar depois do carnaval. O estresse do momento é se aventurar pelos shoppings lotados, com seus corredores cheios de gente afoita e lojas de vendedores impacientes.

Ontem, em uma livraria do Conjunto Nacional (ok, foi uma infeliz idéia ir até lá):

Eu – Moça, você tem algum livro para indicar? Alguma coisa diferente, um romance, de preferência.

Ela – Tem esse que é ótimo. Está na lista dos mais vendidos da revista Veja.

Peguei o livro com uma cara desconfiada. Li a contra-capa, não senti muita inspiração. A moça, então, foi lá e pegou a Veja para me mostrar que o livro era mesmo o mais vendido.

Ela – Tá vendo?

Eu – Sabe o que é? Tô procurando uma coisa menos óbvia, entende?

Decidi ligar para um amigo e pedir indicação. Fui falar com outro vendedor.

Eu – Oi, vocês têm “A Viagem do elefante”?

Ele – Deixa eu ver aqui... Não, não temos.

Eu – Hum, viagem é com “g”, não com “j”.

Ele – Ah, achei aqui.

Eu – Ah. Não vou levar não. Obrigada!

Pode me chamar de preconceituosa, elitista, impaciente e mau-humorada. Mas achei um absurdo o cara que trabalha na livraria não saber como se escreve “viagem”.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Sobre princesas e bundas

Posso falar uma coisa que me incomoda? Os estereótipos.

Desculpem a falta de tato para lidar com o assunto, mas, no meu caso, o problema é a bunda. Nao que eu seja a Scheila Carvalho ou algo parecido. Mas é impressionante como, muitas vezes, as pessoas me enxergam apenas pela parte traseira. E nao estou falando só dos homens. Mulheres, quando veem uma coleguinha com as cadeiras avantajadas, tendem a pensar que a moca é vulgar, indecente, ou coisa perecida. Até já deixei de usar algumas roupas que ficaram realmente bonitas em mim para nao marcar demais o corpo. Como se eu estivesse vivendo há tres décadas atrás!

Penso que isso acontece tambem com as jovens que sao vistas apenas como princesinhas. Sim, porque sao vistas como deusas intocáveis, feitas para serem admiradas e desejadas como algo inatingível. Estas sao para casar, aquelas, enfim, voces sabem...

Nao importa em que grupo a mulher se encaixe. Porque o tormento é o mesmo: a frustracao de ser um ideal, um sonho, sempre muito distante da realidade.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Chicanas

Depois de um começo de viagem emocionante, a deusa parisiense e a maravilha de mulher começam sua viagem ao México. Uma é neurótica e a outra, hipocondríaca, uma detesta pimenta e outra quer provar todas as coisas exóticas que ve pela frente.

Com tanta bomba estomacal e contato com todo tipo de bactérias de banheiro, o jeito é rezar para que a saúde permaneça intacta até a volta ao Brasil...