quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sobre orações

Fazia tempo que eu não rezava tanto quanto ontem. Assim, rezar eu sempre rezo, mas do meu jeito. Nada de orações pré-fabricadas. Mas ontem eu rezei e confesso que foi bem interessante.

Primeiro fui almoçar na casa de uma amiga cuja família é bem católica. Para ter uma idéia, essa minha amiga pediu a opinião do padre antes de transar com o primeiro namorado. Graças a Deus, conta ela, o padre não foi careta e deu uns conselhos bem legais.

Bom, antes de nos servirmos, o pai da minha amiga fez uma oração. Normal, nada de mais. Mas é engraçado como a gente se sente desconfortável ao fazer algo que não está na rotina. A gente fica meio sem saber o que fazer com as mãos, com os olhos. Mas, enfim, sobrevivi. E o almoço estava ótimo.

No final da tarde, fui ao velório da mãe de outra amiga. Muito triste. Cheguei na capela e estavam todos rezando um pai-nosso. Não sei, na hora realmente me envolvi na prece. Não pelas palavras em si, mas pela energia que as pessoas transmitiam enquanto falavam. Depois das orações, foi todo mundo abraçar a minha amiga. Engraçado que nem no dia do seu aniversário você ganha tanto abraço... é todo mundo querendo levar um pouquinho da sua dor embora.

Não conhecia a mãe da minha amiga, ela nem morava em Brasília. Sei que o nome dela era Carolina, tinha 53 anos e teve um aneurisma. Ah, minha amiga se parece muito com ela.

sábado, 18 de outubro de 2008

Almas gêmeas

Uma vez, a avó de uma amiga contou sua experiência de se apaixonar por um jovem 60 anos mais novo que ela. A coisa até soou um pouco engraçada no início, mas depois eu fiquei realmente comovida com a história. A senhora disse sentir que o rapaz era sua alma gêmea, e que ele também sentia algo diferente nela. Os dois formavam uma dupla de dançarinos que ganhou diversos festivais pelo mundo.

A avó da minha amiga ficou um tempo divagando sobre a diferença de idade entre eles. Ela sabia que os dois jamais poderiam ficar juntos, mas disse que ficava feliz em somente estar perto dele.

Depois dessa conversa, fiquei pensando na dificuldade que é para achar alguém perfeito. O mundo tem mais de 6 bilhões de habitantes, e se a sua alma gêmea estiver na China? Além do problema da distância, tem esse negócio da idade e, até, o lance de você e sua metade da laranja serem de realidades sociais muito diferentes.

Na verdade, nem sei se acredito muito nessa história de alma gêmea. É como dizem naquele filme que ganhou o Oscar: o melhor a fazer é achar alguém que valha a pena. "Alguém que te ame pelo que você é. De bom ou mau humor. Feia ou bonita. O que for. Esse é o tipo de pessoa com a qual vale a pena ficar".

As coisas que a gente nunca faz

Essa história do cristal me fez lembrar daquelas coisas que a gente sempre promete que vai fazer, mas nunca faz. Por exemplo, todo mundo tem aquela gaveta bagunçada, cheia de papéis – desde cartões apaixonados a extratos bancários – e sempre promete que vai dar uma arrumação naquilo. Mas a arrumação é o último item de uma lista infindável de prioridades.

Outra situação: quando minha avó veio nos visitar em Brasília, ela passou uma receita infalível de creme que impede as rachaduras nos pés. Pois é, meus pés racharam um pouco, a chuva já está chegando e eu sequer lembro da tal receita...

Isso também acontece com aquele amigo distante, já um colega, que você encontra no meio da rua e promete: “vamos marcar alguma coisa, sim”. Pode ter certeza, vocês só se verão novamente por acaso.

Ou então com aquela roupa que você adora, mas que está precisando dar uma apertada ou alargada. Você vive dizendo que vai deixar na costureira, mas aí acaba usando uma duas, três, quatro vezes daquele jeito mesmo. Aí acaba achando que está bonito assim, não vai gastar dinheiro para reformar algo que já está velho.

E é assim com várias coisas: o livro que você começou, mas não teve paciência para terminar de ler, os textos que deveria estudar antes da próxima aula, o jantar que queria fazer para testar suas habilidades gastronômicas, a visita àquele amigo que você adora e nunca vê...

A gente deixa muita coisa pra depois.

Cristal

Esses dias ganhei um cristal. Meu amigo místico veio com aquele papo de energia, bons fluidos e tal. Me deu mil recomendações do que fazer com a pedra: deixe em água corrente por algumas horas, ou lave e deixe uma noite sob a lua cheia e bla bla bla. E ainda me alertou: o cristal pode virar uma simples peça de decoração ou uma verdadeira fonte de energização. Ok, ok. Já entendi.

Deixei o cristal em cima do console do carro. Fiquei olhando pra ele, formado por três partes pontudas, unidas por uma frágil estrutura de terra. Estava dirigindo na maior tranqüilidade até que atropelei uma tartaruga (aquele negócio de plástico que fica no asfalto para fazer os motoristas diminuírem a velocidade).

Com o atropelamento, o carro todo tremeu e quando olhei para o cristal ele havia se partido. Em três pedaços: um maior, outro médio e um pequeno. Fiquei super triste na hora, mas depois arranjei um destino para as partes da pedra: vou lavar e entregar uma para minha mãe a uma para minha irmã. A do meio vai ficar comigo.

Contei isso para minha mãe e ela adorou. É, ela é meio mística também.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Manobrista

A compulsão brasiliense por concursos públicos transforma as bibliotecas nos lugares mais concorridos da cidade. O problema começa já no estacionamento: o motorista – ou a motorista – fica naquele dilema entre parar o carro num lugar permitido por lei, mas escuro e assustador, ou sair inventando vagas.

Particularmente, a parte de estacionar é a pior para mim. Me considero uma boa motorista, mas devo reconhecer que fazer manobras em espaços apertados não está entre as minhas habilidades. Na segunda-feira, porém, decidi que tentaria achar uma vaga no mais que disputado estacionamento da biblioteca da UnB.

O arrependimento bateu logo que entrei no local. A fila de carros estava enorme e eu perdi cinco minutos preciosos de estudo para avançar alguns metros. Sem falar nos automóveis parados paralelamente à pista. A distância entre esses e os carros que circulam não chegava a oito centímetros. Tenho certeza.

Eis que surge diante dos meus olhos uma vaga BEM na frente da entrada da biblioteca. Sentindo a luz divina, pensei: fui abençoada. O problema é que a vaga era de baliza. Cheia de coragem, aproximei do veículo da frente e engatei a ré. No segundo seguinte, olhei para fora do carro e vi uma galera enorme me olhando.

Gelei na hora. Adeus, auto-confiança. Sim, porque certamente eu teria de fazer umas 15 manobras para colocar o carro na vaga. E ia ficar todo mundo olhando e pensando: “ih, essa comprou a carteira”. Sem pestanejar, fiz aquela cara de nossa-lembrei-de-fazer-algo-inadiável-bem-agora e sai do estacionamento. Parei o carro quase 500 metros longe, no escuro e assustador. Mas com a honra intacta.