sábado, 29 de janeiro de 2011

Porra, Mandela!

Querido Mandela. Sua situação é delicada, eu sei. Você é um grande cara, baita coração, carreira política incrível. Não é à toa que você virou um mito. Tem até uma dancinha em sua homenagem! Que vida, Mandela, que vida.

Mas, por favor, não morra agora, ok? Assim, imagino que você já deve estar cansado dessa coisa toda. Claro, são 92 anos, eu também estaria. Mas morrer em janeiro nunca é um bom negócio, acredite. Seu nome vai aparecer com menos força nas retrospectivas de fim de ano.

Ok, ok. Não é esse o problema. O problema é que estamos em um fim de semana. Porra, Mandela! Pessoas, assim, bacanérrimas que nem você não morrem em fins de semana. No domingo, vá lá, tem aquele ar trágico mesmo, mas sábado?! Ah, sábado não.

Pense nisso, Mandela. George W. Bush poderia morrer em um sábado. O presidente do Egito. O Berlusconi. O Arruda, vai. Você não, Mandela. Você não.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Contos - A ciência do beijo

Tudo começou depois de uma juventude de poucos romances bem-sucedidos e muitos corações partidos. Quando chegou aos 25, ela decidiu que estava na hora de criar formas de se proteger dos programas de índio, das barcas furadas, dessa gente que pede corpo e alma - mais corpo do que alma, na verdade - e não dá nada em troca.

O primeiro filtro foi o astrológico. Com seu método virginiano, ela decidiu que só se envolveria com caras de terra, pés no chão, com propostas para um futuro sólido, recheado de manias sistemáticas e férias cuidadosamente programadas. Assim, sua abordagem inicial consistia em três perguntas: nome, idade e signo.

Com o passar do tempo, ela aperfeiçoou o mecanismo de busca e incluiu ascendente e lua, o que garantiu muitas conversas engraçadas, mas também a derrocada de seu elaborado projeto de caça ao homem ideal. Depois de alguns mojitos, foi para a cama com um sagitariano completamente impulsivo, só porque ele lhe garantiu que sua lua era em touro...

Aí passou a fazer o filtro do sapato. Escolhia os pretendentes olhando para os pés. All Stars, sapatênis e afins eram bem vindos; tênis de corrida, nem pensar. Tudo ia bem, até o dia em que ela, embalada pelos mojitos, acabou confundindo um mocassim e meia branca com um estiloso sapato a lá Justin Timberlake. Quase desmaiou quando acordou a tempo de ver o rapaz saindo do apartamento com uma pochete a tiracolo.

Tentou outras tantas estratégias, todas fracassadas como as anteriores. Muito por causa do mojito, mas também porque nenhuma delas condizia com a sua própria essência. Até que ela teve um clique, um estalo, a grande revelação! O futuro de seus rolos seria definido com um beijo.

Claro, como não havia pensado nisso antes? Lembrou do primeiro deles, no subsolo do colégio de freiras, quando o garoto da 7ª série quase lhe arrancou as amígdalas. Típico de um garoto da 7ª série. Mais tarde, veio o vizinho que lhe mordia os lábios o tempo inteiro, praticamente denunciando aquela personalidade agressiva.

Repassou, um a um, os beijos - os que conseguia, é claro. O do primeiro namorado, nervoso, coma língua elétrica que queria logo a perda da virgindade. O do último namorado, insosso e sem língua, como o das pessoas que não gostam de se entregar.

Virou beijoqueira assumida, sem se importar com o susto dos pretendentes e com a inveja das invejosas. Estava tudo ali, na ponta da língua. Bastava experimentar.

Sintomático

Dizem que o amor é cego, mas isso é uma grande bobagem. O amor enxerga muito bem, vai além do aparente, com sua imensa sabedoria e bondade. O amor é como um velhinho que viveu a vida à exaustão, sentou-se no banco de uma praça e agora gasta seus dias ali, sorrindo para quem passa. Ora, esqueça. Cá estou eu fazendo tudo que não se deve fazer com o pobre do amor, colocando-o numa caixinha com o ridículo rótulo de "amar é"...

Mas a paixão, ah, essa dá para falar com conhecimento de causa! A paixão é uma doida varrida que se liberta do hospício em pleno feriado nacional, provocando tumulto e gritaria. Inconveniente, faz o que nenhuma dieta milagrosa consegue, por mais disciplina que se tenha. Um olhar e rá!, aí vou eu novamente viver de vento, café e álcool, porque fome é coisa de quem tem o coração tranquilo.

Além de louca, a paixão é idiota. Sim, só sendo completamente imbecil para perder o chão por alguém que você conhece há, o que, duas semanas? A pessoa fala de uma música, um sonho, conta uma história, uma fofoca, uma mentira e tudo parece um poema do Vinícius, tudo parece valer a pena.

Aí você lembra daquele clichê romântico das borboletas da barriga e... que nada! Bichinhos tão delicados não seriam capazes de provocar tamanho alvoroço no seu estômago. A paixão está mais para um salto de bungee jumping, uma coisa quase suicida. Não, eu nunca saltei de bungee jumping, mas acho que deve ser quase como estar apaixonada. Um verdadeiro risco para a sanidade de qualquer um. O governo deveria fazer uma campanha. O Ministério da Saúde adverte: a paixão pode provocar danos ao cérebro. Ou ao coração...

Isso tudo até a hora em que essa doida varrida, rebelde sem causa, resolve se aquietar. Pode ser tráumático, com camisa de força e tudo o mais. Mas também pode ser bonito. Depois de muita paciência, a paixão dá as mãos àquele velhinho bondoso do banco da praça e os dois viram grandes amigos. Um final de comercial de margarina, raro, mas nem por isso inatingível.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O incrível Twitter

O aviso diz "18 new tweets", eu carrego a página e lá vem uma enxurrada de opiniões sobre a participação do Aécio Neves no Roda Viva. Um programa que eu não vi, nem pretendo ver, nem a reprise, nem os melhores momentos. Muito obrigada, mas passo o dia ligada em notícias, acho que seria cruel com o meu organismo passar a noite também.

Mas a verdade é que o Twitter é algo fascinante. Mesmo quando meus poucos amigos tuiteiros saem a falar bobagens, parece um vício, eu fico dando F5, esperando para ver o que as pessoas estão falando, nem que seja a maior asneira do Brasil. Ai, esse nosso cibervoyeurismo.

Algo totalmente compreensível, vai. O cara que teve a ideia de fazer um mini diário virtual é simplesmente um gênio. Ainda mais porque vendeu essa ideia para gente interessante - alou, o Luis Fernando Veríssimo tem Twitter, um dos caras, até onde eu sei, mais reflexivos quanto à tecnologia. Tudo bem que não há atualizações desde 30 de setembro, mas vá lá...

É por essas e por outras que hoje eu decidi trocar aquele ovo do perfil do Twitter por uma foto minha. Afinal de contas, já que não tem jeito, é bom que as pessoas saibam que cara eu tenho. Confesso que resisti muito a isso, mas adivinha só o que eu vou fazer agora?

Colocar o link desse texto no Twitter :-)

domingo, 14 de novembro de 2010

Do sexo e sua volatilidade

Engraçado essa coisa de sexo casual. O sujeito te paquera, vocês se beijam e, menos de três horas depois, suas roupas estão jogadas pelo chão da quitinete. Olhos nos olhos, aquele ardor dos romances épicos, suados, abraços calados, cortados apenas pela respiração ofegante. Tudo tão íntimo. Exceto, é claro, pela barreira de látex, porque você é romântica, não louca.

Mas o bicho pega mesmo depois que os hormônios já se aquietaram. É quando rola aquele constrangimento, será que eu vou atrás da minha calcinha ou fico aqui olhando para o teto? Sim, porque acaba de nascer um muro de Berlim entre você e seu amante. Aquele desejo de grudar no outro já era, se perdeu no éter, aproveitou o orgasmo para viajar a uma galáxia distante.

E aí os dois se lembram daquele compromisso amanhã cedo, acho que vou para casa, melhor ir dormir, andei gripado, sabe como é... Vocês se abraçam com a intimidade de dois mascates, rola aquele "se cuida" e você sai apressada, meio sem graça até. Chega em casa como refugiado de uma guerra sem vencedores. Parafraseando o Xico Sá, no tempo do ficar, nada fica, nem o amor daquela rima antiga.

E acaba se conformando, porque a vida moderna é assim mesmo, e, vamos lá, você está com a pele melhor, o cabelo bonito e uma disposição de dar inveja nas suas amigas.

Mas que é estranho, isso é.

domingo, 7 de novembro de 2010

Contos - As Meias

Era uma mulher naturalmente marcante, daquelas que gostam de histórias com começo, meio e sem fim. Armada até os dentes, deixava com cada um de seus casos um pedaço de si. Um brinco, uma presilha de cabelo, uma calcinha inocentemente pendurada na torneira do chuveiro. E quando acabava, lá vinha ela com aquele papo de "deixa pra lá, outra hora você me devolve".

Tudo calculado. Ardilosa, não perdoava nem os ficantes. Esquecia um batom, um sutiã de renda, uma minúscula camisola. Chegou ao cúmulo de "perder" a carteira de motorista na casa daquele funcionário do Detran que a pegou de jeito depois de um encontro fortuito na blitz.

Até que ela o conheceu. De óculos, aparelho e sem o menor jeito para dançar. Deus, no alto de sua sordidez, a fez se apaixonar justo por alguém que dividia banheiro com outros três estudantes da antropologia. Ah, esses caras das humanas.

De marcante, passou a marcada e saía correndo ao menor convite para dormir abraçadinho, deixar a escova de dentes no armário do quarto. Não, aquilo era demais. Como se não bastasse, passou a pegar roupas emprestadas. Tudo bem, uma camisa tamanho G a salvou naquela manhã de sábado, porque mulher nenhuma teria coragem de sair em plena luz do dia com um vestido preto manchado de branco. Ou bege.

Com um esforço hercúleo, devolvia todas as peças do rapaz, lavadas e passadas. No máximo, pingava um pouco do seu perfume para ver se surtia algum efeito contrário àquela paixão avassaladora. Até que ela não pode mais. Passou a esquecer seu arsenal de sedução e se restringiu a um pente de dentes quebrados e a um desodorante com fragância masculina. E meias. Sim, meias que ele gentilmente emprestava para que ela usasse com suas inúmeras botas. Ai, quanta entrega.

Durou pouco mais de seis meses, quando ele disse que viajaria para a Ásia, alguma coisa sobre um curso de fotografia e o sonho de conhecer de perto os hindus e outras mil coisas que ela não conseguia entender.

Saiu da casa dele chorosa, acompanhada pelo olhar solidário dos três amigos maconheiros. Você vai se arrepender, ela pensou.

Não deu duas semanas, o rapaz ligou num domingo à tarde, porque não há melhor dia para ser cruel.

- Alô?
- Oi, tudo bem?
- Tudo e você?
- Tudo certo. Sabe o que é? Será que você podia devolver as minhas meias?
- Como?
- É, as meias. Estou embarcando para Nova Deli na terça-feira, sem dinheiro, preciso das meias.
- Claro.

E desligou o telefone pensando que a vida era mesmo injusta.

sábado, 30 de outubro de 2010

O efeito latente

Se tem uma coisa que o cérebro faz com maestria é deixar a gente pensar coisas idiotas. Não adianta todos os sinais indicarem que o caminho A é o melhor, sempre vai ter uma parte "burra" da nossa cabeça lamentando o fato de o caminho B ter ficado de lado.

Outra coisa lamentável é o que um professor da faculdade me ensinou ser o efeito latente. Acabei de dar uma "googlada" no termo e achei uma infinidade de páginas sobre o budismo. Nada espiritualizada, vou falar do que aquele professor descreveu como efeito latente - e que hoje me parece mais um efeito inconveniente.

Acontece quando, sabe deus porque, o cérebro apaga as lembranças ruins e fica lembrando só das boas. Sim, no passado a gasolina era mais barata, as crianças brincavam na rua, não havia inflação, aquelas sim é que eram verdadeiras bandas de rock! Ah, como era verde o meu vale.

Falando de relações amorosas, o efeito latente consegue ser ainda mais devastador. Pouco importa o que aquele(a) sacana fez com o seu pobre coração, em uma semana você vai ficar recordando só do dia em que vocês dançaram na sala até amanhecer. E o pior, vai ficar lembrando até do que não aconteceu!

Aí, companheiro, controle a emoção, porque o efeito latente vai se juntar à malvada ansiedade. E você vai ter náuseas só de pensar que viu o carro do sujeito(a) passar pelo seu no Eixão. Vai tremer inteiro cada vez que o celular tocar. Será ele(a), ligando para dizer que tudo não passou de um engano, que deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem?

Graças a deus, ou ao diabo, essa coisa toda tem prazo de validade. Pode ser uma semana, um mês, um ano, ou aqueles dois dias que você conseguiu ficar sem beijar na boca. Se ninguém morre de paixão, de saudade, menos ainda de efeito latente.