domingo, 31 de maio de 2009

Poeminha

Memória

Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Cabeleira

Decidi que era hora de cortar o cabelo no dia em que o Apoena – meu colega mais desligado para esses assuntos de aparência – me perguntou:

- Carol, você fez alguma coisa diferente no cabelo?
- Não. Por que?
- Ah, você costumava andar com ele meio assim, nos olhos, né?
- O nome é franja, Apo. Não fiz nada, não. Ele só cresceu.

Mas ir ao salão não é um processo tão simples assim. Ao contrário de muitas mulheres, não tenho paciência para visitar o cabeleireiro e somente aparar as pontas. Sem falar no risco. Depois que uma moça me transformou na Xuxa ao fazer mechas, decidi ser a cliente mais chata do universo.

- Corta. Pode cortar uns quatro dedos.
- Tem certeza?
- Claro que eu tenho. Só não vai me deixar com aquele tufo de cabelo na parte de baixo.
- Claro.
...
- Sandro. Não vai me deixar careca também, né?
- Ih, parece que não confia em mim.
- Confio, Sandro. Só sou um pouco insegura. Você sabe, desde que eu apareci no seu salão com aquele cabelo amarelo ovo...
- Eu sei, eu sei. Alguma vez você já saiu daqui descontente com o resultado?
- Não. – ainda não, pensei.
...
- Que tal?
- Hum, assim, de escovinha ficou jóia.
- Moderno, né?

Sempre tenha medo de cortes “modernos”. Eles têm 50% de chance de parecerem modernos apenas na hora que você saiu do salão.

Uma semana depois:

- Sandro, você tem um tempinho pra mim hoje?
- Quê que foi?
- Ah, não tô gostando desse cabelo.
- Algum problema com a cor?
- Não, é o corte mesmo.
- Tá, aparece aqui que a gente resolve.

Ainda bem que o Sandro me entende. E arrumou o corte sem cobrar um centavo!