terça-feira, 30 de setembro de 2008

Setembro

Setembro é um mês legal. Coisas boas acontecem em setembro. O frio vai embora, as primeiras chuvas começam a cair, e a grama fica verdinha. A gente pode usar saias, vestidos e chinelos, e sentir o vento quente nas mãos quando abrimos a janela do carro.

As pessoas se casam em setembro. Os ipês florescem e vão colorindo as ruas, um de cada vez: primeiro os rosas, depois os amarelos, vermelhos, até finalmente chegarem os brancos, que são os meus favoritos.

Mas tem umas coisas meio chatas em setembro. Uma delas são as cigarras, que começam a gritar a plenos pulmões. Este ano, até duvidei que elas sairiam da terra para subir na copa das árvores. Mas lá estão elas, desde cedo, fazendo cantoria.

Na verdade, as cigarras nem me incomodam tanto. O problema mesmo são as formigas com asas. Ah, essas são nojentas. Quando chega a noite, elas ficam rodando os postes e os faróis dos carros. Isso quando não tentam invadir a casa da gente.

Ontem eu estava indo para a biblioteca e tinha uma verdadeira nuvem de formigas com asas. Eu não tinha escolha, precisava mesmo devolver um livro. Aí decidi fazer de conta que as formigas eram flores caindo no chão.

Estava andando bravamente, até achando bonito aquele movimento todo. Foi quando uma delas me confundiu com um poste e decidiu pousar na minha orelha. Desagradável. Só não dei um gritinho porque tinha muita gente olhando.

Mais tarde, quando fui a um bebedouro na FS, tinha uma formiga com asas morta, sendo carregada por milhões de formigas normais. No fundinho, fiquei com um pouco de dó. Mas depois vi uma outra tentando sobrevoar a minha cabeça de novo e disse (espero que não em voz alta): sai de perto! Senão vou mandar as formigas fazerem aquilo com você também!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Querido diário...

São 19h20, a tempestade se aproxima e eu ainda não consegui sair do meu trabalho. Provavelmente, terei que pegar um bote para chegar no carro, pensando no dilema “corro ou não corro”, tentando adivinhar como me molhar menos. Depois, vou pegar um trânsito infernal, chegar em casa, pegar um colchão e voltar praticamente para onde eu estou agora. Gasolina está barato mesmo. Que bela sexta-feira!

Isso sem falar na minha cara, no meu humor e na minha confusão mental. Já mudei de opinião sobre o mesmo assunto umas 15 vezes. Só nas últimas seis horas. Agora minha irmã acabou de ligar e (imagine!) ficou puta porque eu ainda não cheguei em casa. Como se eu estivesse curtindo alguma festa...

A coisa mais legal do dia foi um elogio que recebi do meu colega gay. Sim, porque se tem um elogio que é sincero é o dos gays.

Colega – E aí, Carol? Foi malhar hoje?

Eu – Nem fui. Quase nunca vou na sexta-feira.

Colega – Também nem precisa né, gata! Com esse corpão...

Uau. Ganhei o dia.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Fobia

Todo mundo tem medo de alguma coisa. Da morte, da dor, do futuro. Tem gente que tem medo de se apaixonar, outros têm medo de perder dinheiro e, ainda, há os que têm medo da solidão. Tudo isso é normal. Mas existem outros medos que são, digamos, especiais.

São medos de coisas muito singulares, que, volta e meia, viram motivo de chacota. É o caso do medo de escuro, de altura, de aranhas, de lugares fechados. Coisas que, teoricamente, todo adulto seria capaz de agüentar. A esses medos deram o nome de fobia.

Estou escrevendo isso porque eu tenho uma fobia dessas também. Vai parecer ridículo, mas eu tenho total agonia de colocar colírio nos olhos. Mas total mesmo, não consigo suportar aquele potinho se aproximando vorazmente do meu campo de visão. Começo a ficar nervosa, a achar que vou ficar cega.

O pior é ter que ouvir coisas do tipo: “ah, Carol. Larga de ser fresca. Como é que você faz quando tem um cisco no olho?” Cisco no olho é diferente. O problema é aquela agüinha estranha que sai daquele potinho assustador. Se bem que acho que teria o mesmo problema com as lentes de contato.

Mas ontem, vencida pela secura, pela ardência e pela vermelhidão nos olhos (sou alérgica, ok?), tive de sucumbir ao colírio. Foi difícil, mas consegui. Fiquei uns 20 minutos no banheiro, aproximando e afastando o potinho. Alguns voluntários ofereceram ajuda, mas é ainda pior quando eu não estou no comando.

Pois é. Essa é minha história. Um viva para mim.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Souvenir

Adoro ganhar lembrancinhas. Não importa se a pessoa trouxe a mesma coisa para todos os 50 amigos. Gosto de estar entre os 50 amigos que vão receber aquele chaveirinho brega ou aquela camiseta “fui à Caldas Novas e lembrei de você”. Se o presente for muito, muito ruim, pode virar pijama (no caso das roupas). Os chaveirinhos e outros bibelôs eu uso mesmo. Geralmente, durante uns três meses, que é quando eles quebram.

Uma coisa que todo mundo já ganhou é fitinha do Senhor do Bonfim da Bahia. E eu não conheço ninguém que jogue a lembrancinha fora. Mesmo quem não gosta de colocar no braço acaba pendurando no carro, na mochila ou na luminária. No fundo, todos acreditam na proteção da fitinha ou, pelo menos, se sentem mal em estar descartando algo abençoado.

Mas se tem um souvenir que eu adoro é o alfajor argentino. Para falar a verdade, até bem pouco tempo atrás, nem sabia que alfajor era lembrancinha. Mas já ganhei a guloseima de dois amigos que foram a Buenos Aires. Certo. Livros e vinhos são caros, melhor presentear com uma coisa que agrada a 99% das pessoas: chocolate.

Bem resolvidas

Certa vez li um texto da Martha Medeiros sobre a primeira transa das mulheres. A autora falava que, na verdade, não existe uma idade certa para esse momento, que tudo depende da vontade e da maturidade de cada uma. Claro que Martha escreveu de um jeito muito gostoso de ler e finalizou com uma tirada mais ou menos assim: ok, você pode esperar o príncipe encantado aos 15, 18 ou 20 anos. Mas, pelo amor de Deus, não seja tão exigente aos 25. Você é consciente, mas louca jamais!

É, pode ser.

Ontem, no fim da aula:

Laura – Tô te dizendo: o rapaz te dispensou porque você mandou o torpedo para ele.

Lízia – Mas eu estava realmente afim de conhece-lo. O que mais eu podia fazer?

Laura – Ah, não sei. Eu não faço esse tipo de coisa.

Lízia – Laura, eu não fazia esse tipo de coisa quando tinha 18 anos. Com 34, eu tenho é que correr atrás dos meus objetivos.

Eu – Mas e aí? Vocês se conheceram? Ficaram juntos?

Lízia – Ah, nós saímos algumas vezes sim. Mas acho que a coisa desandou quando eu comecei a tratar dele.

(Lízia é fisioterapeuta e trabalha com estética. O rapaz adquiriu um pacote de 10 sessões para eliminar as gorduras localizadas).

Eu – Mas por que?

Lízia – Não sei. Ele me trata super bem, mas nada de beijo. Bom, pelo menos eu ganhei um paciente...

Eu – É. Bom que você é otimista.

Lízia – Ah, ficar sozinha é um pouco ruim. Mas não estou desesperada. Com essa idade, os homens ficam achando que estamos loucas para casar. Não é bem assim. O próximo namorado não é candidato direto a marido. Tem que passar por uma avaliação.

Eu – Hum.

Lízia – O que a gente mais ouve é: ah, “você tem 34 anos e quer casar. Eu tenho 37 e estou confuso e blá blá blá.” Longe de mim! Se você é confuso com 37 anos, você precisa de tratamento.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mais que palavras

Uma coisa que eu adoro fazer é observar o jeito que as pessoas falam. Não os sotaques ou erros de português, mas o uso das palavras e expressões. Com essa mania, sempre acabo aprendendo alguma coisa nova. Nem sempre tão útil, é claro.

Hoje, no trabalho:

Apoena – É, isso aí ficou meio fompa.

Eu - ???

Apoena – É, fompa.

Eu – O que é fompa?

Apoena – Sinônimo de fuampa.

Eu – Fuampa?

Apoena – É, coisa ruim, de má qualidade.

Eu – Ah.

Outra coisa que eu acho legal é observar a “magnitude” das palavras. Existem algumas que, carregadas de sentido, acabam se transformando em verdadeiras entidades. A mais emblemática delas é “mercado”. Todo mundo já ouviu falar do Mercado. “Hoje, o Mercado está nervoso” ou então “o Mercado está tranqüilo até mesmo para transações de alto risco”. Imagino o Mercado como um senhor de idade avançada, muito esperto e, obviamente, sacana. O Mercado mora em uma cidade riquíssima da Suíça, vizinho ao Capitalismo e ao Consumo. Todos senhores de muito respeito. Pelo menos aparentemente.

Além do Mercado, outra palavrinha que chama a minha atenção é “imprensa”. A Imprensa e sua irmã gêmea, a Mídia, são geniosas, aproveitadoras e, por vezes, cruéis. Já foram responsáveis pela desgraça de muita gente. Não perdoam. São como urubus atrás de carniça. Mas apesar do caráter duvidoso, ambas são muito procuradas. Geralmente, por pessoas de caráter não menos duvidoso.

De vez em quando, a Imprensa e Mídia fazem uma boa ação, meio que para justificar suas existências. Aí, o Povo, sujeito batalhador e ingênuo, passa a admirar o trabalho das gêmeas. Cuidado, Povo. Muitas vezes, o trabalho da Imprensa e da Mídia é meio, assim, fuampa.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Manhã

Fico indignada com a falta de sensibilidade dos políticos brasilienses. Aliás, fico é perplexa com a falta de inteligência das assessorias políticas.

Brasília, 7h56, 20 Cº. O rádio acaba de informar que o trânsito na EPTG está um caos, não muito diferente da BR 040 e da Estrada Parque Vicente Pires. Sobre a descida do Colorado, o comentário foi modesto: grande fluxo de veículos no sentido Plano Piloto. Pontos de retenção e dor de cabeça. Na minha frente, o caminhão solta uma fumaça preta e densa toda vez que consegue avançar alguns metros. Um verdadeiro progresso.

Penso que ainda vou demorar uns 20 minutos para chegar no trabalho. Meu horário de entrada é 8h. E já são 8h05. Quando decido olhar para cima e contemplar a beleza do céu azul, vejo aquela placa grande e vistosa: “A Câmara Legislativa economizou e você ganhou novas estações do metrô”. Um viva para a Câmara Legislativa. Tirando o detalhe que a estação de metrô mais próxima está a, pelo menos, 20 quilômetros de distância.

Aí já são 8h10. O rádio fala sobre um deputado que usou dinheiro público para ir aos Estados Unidos se encontrar com um pastor. É, talvez os pastores norte-americanos tenham muito a acrescentar ao desenvolvimento do Distrito Federal. O tal deputado ainda revoltou-se com o pedido de investigação feito por um suposto adversário político. Imagine, que bobagem. Apurar os gastos de um parlamentar! Não sei o que esse povo tem na cabeça.