domingo, 28 de junho de 2009

Franquias

Conheci o Subway nos Estados Unidos, há dois anos atrás. Fiquei encantada ao me deparar com aquele sanduíche frio, no pão integral, com salada e tudo. Depois de 10 dias comendo hamburguer no café da manhã e no jantar - sim, porque o almoço a gente pulava - uma refeição do Subway parecia um banquete.

Aí os brasileiros importaram o Subway. Assim como várias outras coisas estadunidenses. No começo, ficava com aquela ideia venezuelana de tentar evitar os estrangeirismos, seja na língua ou na comida. Ou se não evitava, me ressentia. Tudo bem, escrever "sítio" em vez de "site" seria muito português. Mas por que diabos tenho vontade de comer um Cheddar Mc Melt quando há um sem número de saborosas tapiocas?

Entrevistei uma professora de português esses dias e ela acabou com os meu temores nacionalistas. O Brasil é o país do "mexido", disse ela. Nossa língua, nossa culinária, é tudo que nem coração de mãe. Sempre cabe mais um. A gente consegue adaptar tudo.

Por exemplo, o Subway. Claro que a máquina de refrigerantes fica virada para o público, o que, teoricamente, abre a possibilidade de recarga. Mas há um aviso bem brasileiro, voltado aos mais brasileiros clientes: por favor, sirva-se apenas uma vez. Sem falar nas possibilidades de misturas. O pessoal aqui leva a sério o cartaz que diz "mais de 6 milhões de combinações". E consegue enlouquecer os atendentes.

- Sem cebola, moça. Com picles. Capricha no picles, por favor.
- Moça, será que você pode colocar a cebola que ela não quer no meu?

- Pode misturar os molhos? Eu quero parmesão e mostarda com mel.

- Moço, tem como fazer um de queijo, só de queijo, mas sem cobrar o dobro de queijo?

Uma loucura. Agora, o que eu nunca vi foi alguém pedir o dobro de alface. Acho que isso a gente importou igualzinho dos Estados Unidos.

À capital gaúcha

Uma amiga Jbete (para quem não sabe, grupo de ex-companheiras do falido Jornal do Brasil) jura que Porto Alegre é o paraíso das mulheres solteiras. Acabou de mandar um e-mail falando que todos os homens bonitos do Brasil decidiram se esconder na capital gaúcha. Morri de rir. Estive lá há uma semana e confesso que fiquei mais impressionada com a beleza das mulheres do que com a dos homens.

Lá, não tem essa de colocar uma roupinha despretensiosa e sair como quem não quer nada para jantar ou tomar uma cerveja com as amigas. Qualquer evento exige uma mega produção, que começa com escolha de roupas e acessórios chiquérrimos e termina com uma maquiagem bem feita, no melhor estilo "sou linda e sei disso".

Isso não significa que as gaúchas gastem os tubos para entupir o armário. Caminhei pelo centro da cidade e pude atestar que as lojas populares vendem roupas muito elegantes. Por que isso não acontece aqui também?

Porto Alegre tem opções de lazer para todos os gostos. É o que dizem, infelizmente, não dá para checar isso em apenas um final de semana. Mas se sai melhor quando o assunto é boa mesa ou rock'n roll.

Se Porto Alegre fosse uma bebida, seria um vinho. Se fosse um prato, seria uma massa com molho branco ou rosé, talvez com um toque de pimenta - perdoem-me os fanáticos por churrasco. Se fosse uma balada, seria um pub. Se fosse uma pessoa, seria um daqueles porto alegrenses que adora a própria cidade e lembra das datas históricas que aprendeu na escola, há muitos anos atrás.

Termino esse texto plagiando a minha amiga Jbete. Tentem POA uma vez na vida. Sério. Vai ser a alegria de vocês.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mais uma do meu Brasil

Ela saiu do trabalho mais ou menos na hora de sempre, se culpando por não ter ido à academia, pensando em quantas calorias ganhou comendo biscoito e tomando café. Cruzou o estacionamento com o passo apressado, olhando para os lados, com a chave do carro na mão.

Colocou a chave na maçaneta e quase caiu para trás ao ver o interior do veículo todo virado. Ai meu Deus, pensou. Olhou em volta como se estivesse em um reallity show. É pegadinha, vou voltar lá pra cima, descer de novo e tudo vai ficar bem. Pensou em ligar para o pai, para a irmã, para o ex-namorado, mas acabou ligando para uma amiga que já havia passado por algo parecido.

- Oi, gata!
- Mexeram no meu carro.
- O quê?
- Mexeram, arrombaram.
- Sai de perto do carro.
- Tá.

Aí a coisa virou comoção. Todos os colegas desceram, perguntaram se ela estava bem, se tinham furado a porta, quebrado o vidro ou levado o som do carro. Não. Aparentemente, estava tudo aí. Exceto pela bagunça.

Nervosa, sem conseguir se mexer direito, ela viu os colegas constatarem que o carro foi arrombado pelo porta-malas, com uma técnica de roubo super sofisticada na qual o bandido não precisa furar a lataria. Impressionante.

Descobriu que levaram uma mochila, um par de tênis, uma calça de fazer ginástica e uma calcinha que ela nem gostava tanto assim. Ouviu o segurança dizer que ela teve sorte, porque afinal de contas, o estepe estava aí e o som do carro também. Sorte. Uma tremenda sorte ser só um pouquinho sacaneada por um malandro filho da puta. Ou dois.

Depois ficou com medo de entrar no carro sozinha, como se o bandido fosse brotar do meio do volante a qualquer momento. Saiu pelo mesmo caminho de sempre, se sentindo um pouco usada, um pouco vazia, um pouco com raiva e um pouco - por que não? - com sorte. Pelo menos, não foi ameaçada ou sei lá o quê.

Ela sou e eu e essa história aconteceu ontem à noite.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Primeira noite

Há vários tipos de primeira noite. Primeira noite que você beija na boca, que você sai sem hora para voltar, que você dorme com alguém ou morre de chorar pelo toco que levou. Há também a primeira noite em um lugar totalmente estranho ou a primeira noite em que você dorme em casa depois de muitos dias longe da sua cama. Todas têm algo de novo, especial.

Semana passada, eu tive a minha primeira saída noturna desacompanhada. Desacompanhada mesmo, sem ninguém para ligar na hora de ir dormir ou mandar uma mensagem dizendo que a música está ótima, mas que a saudade está apertando. Depois de meses, você chega em frente aquele lugar super badalado, que você adorava, e se depara com um grupo de 30 senhoras embarcando em uma excursão para Caldas Novas.

- Amiga, o que aquele pessoal está fazendo aqui?
- Ai, não sei. Mas vamos entrar logo. Se for ruim, a gente não volta mais.

Nada de filas, a demora para entrar se deve a um atrapalhado atendente que demorou 15 minutos para conferir o nome de 20 mulheres em uma lista de cortesia. Nessa hora, estamos eu, minha amiga e as 20 mulheres no local. Uau. Ainda bem que eu não vim aqui para paquerar.

Você vive aquela fase em que ainda não sabe direito o que fazer com as mãos, os braços, as pernas, não sabe se dança ou se escora no balcão. Se não sabe nada disso, imagina se vai se atrever a lançar algum olhar malicioso. O máximo é olhar nos olhos do balconista para que ele entenda a sua vontade de conseguir um copo de vidro, e não de plástico.

Depois de um tempo, você já nem está mais tão assustado assim. A música é mais ou menos a mesma e o banheiro continua tendo filas, nas quais mulheres bêbadas pedem misericórdia para que as da frente se apressem ao fazer xixi. Nada de estranho. Você até resolve dançar com alguém.

- Você é de Brasília mesmo?

Não, não sou. Sou paulista e venho todos os meses especialmente para esse lugar. Por que será que todo mundo me pergunta isso?

- E o que você faz?
- Sou jornalista. E você?
- Faço Direito.
- Hum.

- Você vem toda semana aqui?
- Não exatamente...
- E o que você faz?
- Sou jornalista, e você?
- Faço Direito.

Quando o terceiro me respondeu a mesma coisa, achei que era pegadinha. Mas o pior mesmo foi o quarto, que podia até fazer Direito, mas não conseguia sequer conduzir a dança de tão bêbado.

- E aí, amiga? O que você achou?
- Ah, divertido. No mínimo.
- É. Tô com fome, e você?
- Um pouquinho.
- Que tal um omelete?
- Adorei!

Nada mau para uma primeira noite.