quarta-feira, 30 de julho de 2008

Crianças

Tenho que contar um segredo. OK, nem tão segredo assim. É que todas as vezes que falo desse assunto, as pessoas ficam me olhando como se eu fosse um animal exótico no zoológico. Bem, lá vai: eu tinha cinco (eu disse cinco!) amigos imaginários na infância. Pronto. Esse é o grande segredo.

Minha mãe diz que é comum crianças criarem a figura do amigo imaginário. Aquela pessoa que está sempre do lado e que, geralmente, é culpada pelas “artes” que o menino/menina faz. Sujou a roupa? Não fui eu, foi o fulaninho. Esqueceu de fazer o dever? Que coisa, falei para o fulaninho que ele tinha que estudar. Porém, reconhece minha mãe, o normal é que a criança tenha um amigo imaginário. Não cinco. Talvez eu seja digna de um estudo de caso de psicologia.

Bom, estou falando isso porque sábado passado fui à casa da vó da Ana e conheci uma garotinha super fofa, prima da Ana. Além de esperta e falante, a menina já está aprendendo a falar inglês. Com dois anos! Quando ela tiver 20, vai ser poliglota.

Moça – Cecília, vamos tomar banho...

Garotinha – Ah, não.

Ana – Vai lá, florzinha. Quando você voltar, a gente brinca.

Garotinha – Tá bom. Vou levar meu aquafresh!

O “aquafresh” é um pedaço de madeira verde de cerca de 20 centímetros, parece uma régua. Só que sem os números.

Moça – Agora vamos lanchar, Cecília.

Garotinha – Ah, não...

Eu – Vai lá, Cecília. Pra você ficar forte e poder brincar mais.

Garotinha – Tá bom. Vou deixar meu aquafresh aqui com vocês.

Ana – Pode deixar.

...

Eu – Aquafresh? De onde ela tirou isso?

Ana – Sei lá. Não vou nem encostar, vai que ele faz alguma coisa, né...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Big Brother

Às vezes eu acho que a Virgínia usa drogas pesadas (ela vai me matar por escrever isso! haha!). Ela diz que não, mas estou pra conhecer alguém que viaje mais do que ela.

Hoje, no trabalho:

Vi – Carol, eu acho que você devia se inscrever no Big Brother.

Eu – O quê?!

Vi – Sério, você tem chance de entrar...

Eu – Ai, Vi. De onde você tirou essa idéia?

Vi – Ah, não sei. Seu jeito, assim, acho que ia dar Ibope.

Eu – Claro que não! Eu ia ser eliminada na primeira semana. Ia ser aquelas pseudo famosas que ninguém lembra. O Leo concorda comigo, né Leo?

Leo – Relaxa, Carol. Na primeira semana ia ser tudo festa, todo mundo se adorando. Era só você controlar seu mau humor matinal.

Não retruquei. Mas queria deixar registrado que não tem nada de mau humor matinal. Existe uma espécie de pacto: O Leo agüenta minhas patadas e eu, as dele. Só isso.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Papo nerd

O portal da UnB tem um espaço que reúne crônicas semanais, agora escritas por duas professoras da universidade. A idéia inicial da página é muito legal: reunir textos sobre o campus com ilustrações feitas por alunos, ex-alunos ou docentes da UnB. Na prática, porém, a coisa não funciona tão bem assim. Além de ser super trabalhoso colocar as crônicas no ar – o sistema é complicado, confesso que demorei meses para aprender como funciona – quase nunca encontramos almas caridosas e dispostas a fazer a tal ilustração.

Bem, não importa. O que eu quero dizer é que eu gostei muito da última crônica. Da imagem também. Está em http://www.unb.br/cronicas/index.php#83. A professora conta como foi o dia em que foi verificar seu tempo de serviço na UnB. Como se sentiu, o que disse, o que pretendia fazer quando se aposentasse. Tem gente que não gosta desse tipo de texto, mas eu acho super legal. É como se o autor estivesse dando uma parte da sua vida para o leitor.

Uma das coisas que ela escreveu me fez lembrar o quanto eu ando sem tempo pra nada. E quando eu tenho tempo, arranjo mil coisas para fazer. Ficar parada me deixa com alergia. Mas, enfim, queria mais tempo para ler. Ganhei de aniversário um livro que sempre quis: Cem anos de solidão, do Gabriel García Márquez. Minha mãe diz que é a obra favorita dela, o que já é um bom motivo para dar uma conferida.

Há um tempo atrás, eu lia vorazmente. Graças ao Igão, conheci muitos livros bons, desde romances a histórias de traficantes, passando pelos clássicos. Aliás, aprendi uma coisa sobre os clássicos. Muitos são uma porcaria. Continuam clássicos por um certo status, aquela coisa cult, algo como “o quê?! Você nunca leu Saramago?”, acompanhado daquela cara de “estou olhando para um ET”.

Saramago eu li, e muito. Por enquanto, é meu autor favorito. Leria tudo de novo. Mas tem um clássico que não dá certo: Dostoievski. Lembro que, depois de muita insistência do Igão, decidi que leria “Crime e castigo”. Demorei quase três meses pra terminar, eram muitas páginas com as letras pequenininhas.

O começo é muito bom. Você quebra a cabeça para entender porque os personagens tomam certas atitudes, se tem algum mistério na história. Mas, no final, fiquei decepcionadíssima. Não acreditei que o grande clássico da literatura internacional terminava daquele jeito, tão normal.

Vai ver é assim mesmo. Igual no filme que eu vi domingo, por insistência da Ana: Kung Fu Panda. Ótimo, por sinal. A mensagem que fica é: as coisas não têm nenhum segredo especial. Ser você mesmo é ser especial.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Tempos modernos

A revolução feminista abriu uma série de oportunidades para as mulheres. Uma série de problemas também. Sim, porque além de sermos lindas, gostosas, carinhosas, boas mães, namoradas e/ou esposas, temos de ser inteligentes e bem sucedidas. Tudo isso em dias que não têm mais que 24 horas.

Mas apesar de toda essa multifuncionalidade, eu acho massa demais ter nascido mulher na época em que nasci. Claro que algumas coisas à moda antiga são simplesmente irresistíveis e devem ser cultivadas para a posteridade. Não há feminismo que resista a gentilezas como flores e surpresas. Mas o bom de viver hoje é que não tenho vergonha alguma de manifestar as coisas que eu quero. E as que eu não quero também.

Esses tempos, numa festa:

Eu – Tenho que te falar uma coisa. Na verdade, não tenho que te falar. Mas vou me sentir melhor se eu falar.

Ele - ...

Eu – Tô ficando com um cara.

Ele – Hum.

Eu – Tá, era só isso.

Ele – Mas isso atrapalha o nosso lance?

Eu – Como assim?

Ele – É, posso continuar te ligando?

Eu – Não. Quer dizer, se você quiser ligar pra conversar, assim, como amigos, tudo bem.

Ele – Hum.

Eu – “Hum” o quê?

Ele – Não é mais pra te ligar, então?

Eu – Uai. Você que sabe. Já te falei.

Ele – Então tá. Não vou mais ligar.

Eu – Tudo bem.

Ele – Tem certeza?

Eu – Faz assim: se eu quiser falar com você, eu te ligo.

OK. Consigo lidar com várias coisas. Mas tem gente que é moderna demais pra mim.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Suspiros

Vou escrever uma coisa muito, muito brega:

A paixão me pegou
tentei escapar, não consegui
nas grades do meu coração
sem querer eu te prendi

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Vamos estar ligando...

Toda vez que eu fico descontente ou desestimulada com o meu trabalho, aparece alguém para me lembrar que existem empregos realmente chatos. Não vou entrar no mérito de profissões como criador de porcos ou desentupidor de fossas. Estou falando de gente que, como eu, passa o dia sentada. Agora pouco, por exemplo, acabei de receber a ligação de um atendente de telemarketing.

O rapaz parecia muito empenhado em me convencer que a Vivo é a melhor operadora de celular do planeta. Quis saber meu nome, quanto eu pagava por mês. Chegou a me oferecer um aparelho novo! O que ia ser ótimo, levando em conta que meu telefone vai de mal a pior, eu cada vez tendo de me esforçar mais para entender o que as pessoas estão dizendo do outro lado da linha. (Confesso, isso é culpa minha. Pouco tempo depois de estar com o aparelho, ele sofreu uma queda brusca. Em um momento de alta tensão – entrando no carro, escrevendo, falando no celular e pegando as moedas para o flanelinha, tudo ao mesmo tempo – o celular despencou e quase foi atropelado por um carro. Depois disso, nunca mais foi o mesmo).

Justamente por causa dessa dificuldade em ouvir os interlocutores, fico sem a menor paciência para papos muito complicados. Ainda mais quando se trata de alguém tentando me vender algo, apresentando o mundo maravilhoso das vantagens que só a Vivo tem para você.

Eu – Moço. Faz assim: me manda essas informações por e-mail. Pode ser?

Ele – Mas eu não tenho como negociar as vantagens com a senhora por e-mail.

Senhora. Tudo bem. Acabei de fazer 23 anos. Quando eu tiver 60, vão me chamar de anciã.

Eu – Então me liga outra hora. Daqui uns dois meses. Minha fidelidade com a Tim acaba em agosto, eu acho.

Ele – Tudo bem. Tem algum horário que é melhor para falar com a senhora?

03h17 da madrugada. Nem um minuto a mais. Foi o que eu pensei. Mas achei que ia ser um pouco rude falar com o rapaz desse jeito.

Eu – Hum. Final de semana. É, final de semana é melhor.

Não sei de onde eu tirei essa idéia. Vou ficar muito mau-humorada se alguém da Vivo quiser bater papo num sábado. De manhã, então, vou ficar fula.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Cara limpa

Que me desculpem os especialistas, mas a melhor maquiagem do mundo é a felicidade. Você pode dispor dos melhores produtos estéticos, corretivo, base, blush, rímel, delineador. Se a alma não vai bem, qualquer beleza acaba ofuscada por uma nuvem cinza.

Nunca me esqueço do dia em que minha melhor amiga me disse: “Ana (é, ela me chama de Ana), você está bizarra, com olheiras e cabelo desgrenhado. Mas tô pra me lembrar do dia em que você esteve tão bonita. Você tá radiante”. Acho que era julho de alguns anos atrás.

Hoje me sinto mais ou menos assim. Estou parecendo um urso panda, mas feliz da vida. Tentei dormir cedo ontem, mas uma surpresa muito boa modificou meus planos. Tentei caprichar no corretivo, mas ele foi embora quando eu chorei hoje de manhã. É assim. Vivendo cada momento. Como diz uma música que eu gosto muito:

É bom andar a pé
sem sapato, sem direção à toa
na cabeça o sol
um boné
É bom andar a pé
devagar para aguentar o calor
e olhar a vista pro mar
melhor

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Hematomas

Tenho um problema muito sério com batidas e pancadas. Não sei como, sempre acabo esbarrando em coisas que se colocam na frente dos meus braços e pernas. O resultado é que fico cheia de manchas que começam avermelhadas, ficam azuis e depois roxas. Um show. Minha mãe disse que é de família: falta de coordenação e de controle dos movimentos. Meu instrutor da academia limitou-se a me sacanear: “Ah, é por isso que você tem essas mechas loiras no cabelo”.

Atualmente, estou com um hematoma no braço direito, dois na coxa esquerda e um muito grande na canela direita. Os da coxa eu até sei como foram. Minha mesa do trabalho é daquelas que tem o suporte para teclado. Quase sempre esqueço disso e decido cruzar as pernas para, invariavelmente, enfiar a coxa na quina e soltar aquele palavrão reprovável.

Por conta de toda essa situação, ontem decidi que compraria gel de arnica. Um amigo disse que é muito bom para hematomas e outras coisas mais. Só não recomendou o uso em hemorróidas. Acreditem, ele já fez essa experiência, fato que garante muitas risadas em mesas de bar.

Mas a farmácia perto da minha casa não vendia gel de arnica. O atendente tentou me empurrar uma outra pomada específica para o problema. Me recusei veementemente. Afinal, eu só queria diminuir as manchas, nada que justificasse o investimento de R$ 22.

Me arrependi de não ter comprado a tal pomadinha menos de uma hora depois. Foi quando eu escorreguei no chuveiro e dei com o joelho no box. Xinguei até a quinta geração do box, como se ele tivesse alguma culpa de estar ali, cumprindo sua função de não alagar o banheiro. Pelo menos, a pancada foi no joelho, que raramente fica roxo.

Pois é, tenho que prestar mais atenção nas coisas à minha frente. Minhas pernas parecem uma obra de arte petit poá (não sei se é assim que escreve). Lindo. Amarelo (por causa da falta de sol) com bolinhas roxas.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Quilinhos a mais

Sempre gostei mais de salgados do que de doces. Três crises de alergia alimentar na infância me acostumaram a sobreviver sem todinho, Nescau, chocolates, biscoitos recheados e toda ordem de porcarias adoradas pelas crianças. Mas desde que eu comecei a trabalhar na UnB algumas coisas mudaram. Tudo por culpa do Leo e da Virgínia. Ambos com aquela mania nada saudável de perguntar se eu aceito um chocolatinho às duas da tarde, logo depois de eu, disciplinadamente, ter comido a minha salada. A coisa está tão intensa que agora eu é que pergunto: “Leo, você não tem chocolate aí?”. E quando ele não tem me dou o direito de ficar chateada.

Fui perceber a gravidade da situação ontem. O Roberto me ofereceu um quadradinho de Sufflair e quando eu fui pegar ele disse: “Imagina se a Carol ia recusar chocolate!”. Ó, Deus. Virei um monstro. Mas que fique uma coisa bem clara: não é qualquer chocolate. O lance é que a Virgínia sempre traz aqueles de qualidade – Stans, Cacau Show e afins. Meu ovo de Páscoa Sonho de Valsa, por exemplo, ainda está na minha penteadeira, praticamente inteiro.

Pode não parecer, mas meu problema mesmo é com banana. Não banana pura e simplesmente, mas doces com banana. Sexta-feira passada fui lanchar com a Ana. Ela pediu quatro esfirras, duas de chocolate, e eu três, uma de banana. Acredita que veio uma extra de banana? Ai, ai, meu estômago. Ainda bem de que eu tive o bom senso de comer só as três mesmo. Se não, ia ter ficado igual a Ana, deitada, se lamentando: “Ai, chocolateee!”.

Deve ser por causa de todos esses hábitos alimentares que eu engordei dois quilos e meio no último mês. Tentei arranjar uma outra explicação para o fenômeno, mas não deu.

Ontem, na aula:

Hernanda – Olha, Carol! O professor é ginecologista. Pergunta pra ele o lance do seu remédio.

Eu – Professor, o negócio é o seguinte: tô tomando o Yaz e engordei dois quilos em um mês.

Professor – Você engordou dois quilos? Como você era antes?

Eu – Elegante, professor.

Professor – Não tem essa história de engordar. Esse anticoncepcional não engorda.

Eu – Mas professor, as minhas calças estão torando!

Professor – Compre calças novas.

Eu – Mas professor, eu me sinto mais inchada e...

Professor – Se você acha que engordou, pare de comer porcarias então.

É, tive de me calar com toda essa argumentação.