domingo, 7 de fevereiro de 2010

Subindo a serra

20 de janeiro de 2010, 9 da manhã. Rodoviária de Porto Alegre.
Onde era mesmo que a minha mãe comprava aquela torrada? Não sei, as coisas pareciam ser muito maiores naquele tempo. Tempo em que eu ia muitas vezes à capital para ver se os médicos descobriam o que havia com os meus dedos. Nasci com os dedos mínimos tortos. Fiz uma cirurgia aos 6 anos, fisioterapia, e as mãos ficaram normais como as de todas as crianças. Hoje um deles voltou a ser torto. O esquerdo, claro. Mas já não me preocupo em ser normal como todos os adultos.

Mas eu falava das torradas. Sim, eram triangulares, cheias de manteiga e queijo. Era a parte mais gostosa da viagem a Porto Alegre. Até o dia em que minha mãe desistiu de comprar a tal torrada, só porque eu comia apenas a parte do miolo e deixava as cascas no prato. “Muita gente passa fome e você está desperdiçando”, ela dizia. Ou se não dizia, foi essa mensagem que gravei do castigo de nunca mais comer a tal torrada. Que seja. No momento, não tenho mais vontade de comer um miolo de pão engordurado.

A viagem até Caxias é incrivelmente rápida, mas eu achava uma loucura que pessoas a fizessem todos os dias. Bobagem. Hoje eu faria, se fosse preciso. Ainda mais com o slogan da companhia de ônibus: Expresso Caxiense – Transporte Carinhoso. Uma graça.

A serra é aquele lugar onde as nuvens nascem e passeiam, frias, até a hora de chover. A paisagem é bem bonita, entrecortada por araucárias e por uma neblina que insiste em aparecer em pleno verão. Ah, o Sul. Fazer turismo é bacana, mas morar... Não me encanta o sofrimento que é para escovar os dentes na água gelada ou colocar o nariz para fora de casa em uma manhã polar.

Mas é verão e pelo menos disso em fugi. Seja como for, subir a serra é uma viagem ao passado. Ao meu passado, que nem está tão distante assim. Fazia cinco anos que eu não botava o pé na cidade onde cresci, mas deu pra ver que ela cresceu junto comigo. Prédio e casas se erguem em áreas onde antes só havia mato. O centro está tomado por lojas e lojinhas. Só não fazem sucesso as Casas Bahia, que faliram em todo o Rio Grande do Sul.

Talvez porque os gringos são apegados às coisas da terra. Valorizam suas empresas, comidas, músicas. E quando vão embora, penduram chaveiros, bandeiras em todos os lugares. Fazem churrasco e chimarrão. E ai de quem falar mal de gaúcho.