quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Contos - A ciência do beijo

Tudo começou depois de uma juventude de poucos romances bem-sucedidos e muitos corações partidos. Quando chegou aos 25, ela decidiu que estava na hora de criar formas de se proteger dos programas de índio, das barcas furadas, dessa gente que pede corpo e alma - mais corpo do que alma, na verdade - e não dá nada em troca.

O primeiro filtro foi o astrológico. Com seu método virginiano, ela decidiu que só se envolveria com caras de terra, pés no chão, com propostas para um futuro sólido, recheado de manias sistemáticas e férias cuidadosamente programadas. Assim, sua abordagem inicial consistia em três perguntas: nome, idade e signo.

Com o passar do tempo, ela aperfeiçoou o mecanismo de busca e incluiu ascendente e lua, o que garantiu muitas conversas engraçadas, mas também a derrocada de seu elaborado projeto de caça ao homem ideal. Depois de alguns mojitos, foi para a cama com um sagitariano completamente impulsivo, só porque ele lhe garantiu que sua lua era em touro...

Aí passou a fazer o filtro do sapato. Escolhia os pretendentes olhando para os pés. All Stars, sapatênis e afins eram bem vindos; tênis de corrida, nem pensar. Tudo ia bem, até o dia em que ela, embalada pelos mojitos, acabou confundindo um mocassim e meia branca com um estiloso sapato a lá Justin Timberlake. Quase desmaiou quando acordou a tempo de ver o rapaz saindo do apartamento com uma pochete a tiracolo.

Tentou outras tantas estratégias, todas fracassadas como as anteriores. Muito por causa do mojito, mas também porque nenhuma delas condizia com a sua própria essência. Até que ela teve um clique, um estalo, a grande revelação! O futuro de seus rolos seria definido com um beijo.

Claro, como não havia pensado nisso antes? Lembrou do primeiro deles, no subsolo do colégio de freiras, quando o garoto da 7ª série quase lhe arrancou as amígdalas. Típico de um garoto da 7ª série. Mais tarde, veio o vizinho que lhe mordia os lábios o tempo inteiro, praticamente denunciando aquela personalidade agressiva.

Repassou, um a um, os beijos - os que conseguia, é claro. O do primeiro namorado, nervoso, coma língua elétrica que queria logo a perda da virgindade. O do último namorado, insosso e sem língua, como o das pessoas que não gostam de se entregar.

Virou beijoqueira assumida, sem se importar com o susto dos pretendentes e com a inveja das invejosas. Estava tudo ali, na ponta da língua. Bastava experimentar.

2 comentários:

Paulinho Mesquita disse...

como curador desse blog, devo dizer:
1 - muito bom o texto;
2 - consigo imaginar muito bem essa personagem;
3 - o correto para se usar, no 1º parágrafo, é poteGer.
4 - o beijo diz muito mesmo
5 - beijo sem língua é o fim
6 - quanto homens no mundo sabem seu ascendente e sua lua?

E tenho dito.

Djallys disse...

Não é que essa moça escreve bem que só!!!
muito bom o texto Carol!
acabei descobrindo seu blog perambulando por essas bandas virtuais...e posso dizer: um very good achado....

besitos...

Djallys