segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Musiquinha

Para uma vida vicentina, nada melhor que uma noite severina.

Noite severina

Pedro Luís e Lula Queiroga

Corre calma, severina noite
De leve no lençol que te tateia a pele fina
Pedras sonhando pó na mina
Pedras sonhando com britadeiras
Cada ser tem sonhos à sua maneira
Cada ser tem sonhos à sua maneira

Corre alta, severina noite
No ronco da cidade, uma janela assim acesa
Eu respiro o teu desejo
Chama no pavio da lamparina
Sombra no lençol que te tateia a pele fina
Sombra no lençol que te tateia a pele fina

Ali, tão sempre perto e não me vendo
Ali sinto tua alma a flutuar do corpo
Teus olhos se movendo, sem se abrir
Ali, tão certo e justo e só te sendo
Absinto-me de ti, mas sempre vivo
Meus olhos te movendo sem te abrir

Corre solta, suassuna noite
Tocaia de animal que acompanha a sua presa
Escravo da sua beleza
Daqui a pouco o dia vai querer raiar
Daqui a pouco o dia vai querer raiar...

Prisma

Ela se tornou mulher numa noite mais ou menos como essa. Chegou em casa tirando o tênis e a roupa. Não era para ninguém, mas para ela mesma, cansada de um dia que parecia ter tido 40 horas. Na sala, ela o encontrou. Com a cara amarrada, como o de costume. Não que ele fosse um sujeito mal-humorado, apenas tinha dificuldade em lidar com o diferente. E ela era diferente.

Sem rodeios, ele impôs suas condições. Se ela era assim, as coisas agora seriam assado. Afinal de contas, estou cansado de ceder. Sem se alterar, ela respondeu que não aceitava. De jeito nenhum, não vou pagar uma conta que não é minha. Manteve o rosto erguido, sem deixar escorrer uma lágrima. Usou argumentos inteligentes, sem espernear. Uma adulta, enfim.

Mas ele não estava preparado para tanta decisão. Claro que não. Essas coisas levam tempo. Além disso, a maioria dos pais prefere não ver que os filhos cresceram.

Ela, que pena, não sou eu. Mas uma das pessoas mais admiráveis que eu já conheci.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pequeno grande encontro

Tem encontros ao acaso que a gente teme, mas não muito. São mais difíceis do que a gente gostaria, mas não tanto quanto a gente imaginava. Mas o sem querer dura pouco, o tempo de uma caminhada até a saída, talvez.

- Então, professor, ficou bacana essa reforma aqui, né?
- É, ali é o laboratório e...
- Carol?
- Oi. Oi!
- O que você está fazendo aqui?
- Ah, vim conhecer o trabalho do professor.
- Então você conhece essa figura, Carolina?
- Ô.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Crônica dos beijos anunciados

Perdoe-me, Gabo, pelo plágio mal feito. Mas não consegui achar título mais apropriado para aquela hora em que você sabe que vai acontecer, torce para acontecer e, mesmo assim, bate aquele medinho de não ser nada disso. Coisa comum nas primeiras vezes, e nem precisa ser a primeirona mesmo. Pode ser a quarta, a quinta ou a décima. Não saber é sempre interessante.

- Aí os dois assaltantes entraram no bar, anunciaram o assalto, levaram os celulares. Eu e meu amigo...

Poxa, ele bem que podia me beijar.

- Acabou que eu levei uma coronhada, fiquei com essa cicatriz na boca, ta vendo?

Será que eu vou ter que beija-lo?

- Ahn? Cicatriz? Onde?
- Aqui, no lábio superior.
- Ah, ta bem pequena.

Como será que é beijar essa cicatriz?

- Ei, você está me ouvindo?
- To, claro.
- É que você pareceu distante.
- Imagina... só estava te olhando.
- Olhando?
- É, olhando.
- Vem cá...

...

- Pois é, eu não gosto de reggae.
- Sério? Que pena, eu adoro.
- Da próxima vez, eu trago um CD só pra não correr o risco.
- Ah, não fala assim.
- Tô brincando.
- Mas eu não ouço só reggae, sou bem eclético até. Você já ouviu aquele CD do Ney Matogrosso com o...

Olha, o papo ta ótimo. Mas eu vim aqui pra te beijar. A gente pode até conversar depois, ser amigos e quem sabe até evoluir para um rolinho. Mas agora não.

- ...aí eles fizeram umas versões exclusivas, bem legais. Olha essa aqui.
- Hum, legal mesmo. Depois eu quero gravar.
- Tem também essa outra, olha só esse arranjo...
- Lindo... Sabe o que que é? To curiosa.
- Curiosa como?
- Ah, curiosa.
- Vem cá...

Beijar na boca é bom. Mas, muitas vezes, a graça é o caminho e não a chegada. Meu próximo namorado vai ter que ser compreensivo com algumas coisas. Vez ou outra, a gente vai brincar de conquista. Só pra ver quem perde primeiro.

Filho de peixe...

Peixinho é!